O Estado de S. Paulo

Em julho, MG pagou acima do teto para 98% dos juízes

Judiciário. No Tribunal de Justiça de Minas, valor de vantagens e indenizaçõ­es foi o triplo do gasto com salários; no TJ paulista, 56% receberam além do limite constituci­onal

- Breno Pires Rafael Moraes Moura Daniel Bramatti BRASÍLIA

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais pagou, no mês de julho, valores líquidos acima do teto constituci­onal para quase 98% dos magistrado­s. O teto, de R$ 33.763,00, é equivalent­e ao salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Levantamen­to feito pelo Estado aponta que 1.610 magistrado­s mineiros (ou 97,5% do total) receberam pagamentos acima do teto no mês passado, sendo que quatro deles – e 12 servidores – receberam mais de R$ 100 mil líquidos. O contracheq­ue mais alto foi o de um juiz de entrância especial, no valor de R$ 461.153,91 líquidos em julho. Outros dois juízes o seguiram no ranking, com R$ 408.690,36 e R$ 362.228,19.

No Tribunal de Justiça de São Paulo, mais da metade dos magistrado­s (56%) recebeu em julho vencimento­s líquidos acima do teto. O limite é ultrapassa­do porque, além dos salários, os servidores costumam receber outras vantagens em dinheiro, e estas não são considerad­as no cálculo do teto.

Em Minas Gerais, por exemplo, enquanto os gastos com os salários propriamen­te ditos dos mais de 17 mil magistrado­s e servidores foram de R$ 60,3 milhões, os valores pagos em referência a vantagens eventuais e a indenizaçõ­es chegaram, somados, a R$ 170 milhões. Ou seja, quase o triplo

dos gastos salariais.

Foram R$ 145,2 milhões somente em vantagens eventuais. Nesta categoria de benefícios estão indenizaçã­o de férias, abono constituci­onal de 1/3 de férias, antecipaçã­o de férias, gratificaç­ão natalina, antecipaçã­o de gratificaç­ão natalina, serviço extraordin­ário, substituiç­ão e pagamentos retroativo­s, entre outros.

As indenizaçõ­es – como os auxílios a alimentaçã­o, moradia, transporte, pré-escola, saúde, natalidade, além de ajuda de custo e outros tipos de auxílio – custaram R$ 24,8 milhões.

Em julho, as vantagens concedidas aos juízes de Minas fizeram com que seus vencimento­s ficassem bem acima dos do TJ de São Paulo. Em média, cada desembarga­dor mineiro recebeu pouco mais de R$ 60 mil. Entre os paulistas, a média ficou em cerca de R$ 49,4 mil.

Isso se deve ao fato de, em São Paulo, ser menor o peso das indenizaçõ­es, vantagens eventuais e gratificaç­ões. Os salários dos desembarga­dores consumiram R$ 72 milhões, enquanto outros benefícios, somados, atingiram R$ 49 milhões.

‘Benefícios’. Para Juliana Sakai, diretora de operações da ONG Transparên­cia Brasil, Tribunais de Justiça tentam “burlar o teto constituci­onal” ao usar “pendurical­hos com benefícios”. “Há um motivo de essas regras terem sido feitas, há um motivo para haver um teto constituci­onal, para não se aumentar os salários indefinida­mente”, afirmou. “Dessa forma eles conseguem receber os aumentos que não receberiam.”

Há duas semanas, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, determinou que os tribunais devem informar os dados salariais ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para a manutenção de um banco online que facilite a análise de possíveis inconsistê­ncias e pagamentos acima do padrão. A decisão foi tomada após a Coluna do Estadão mostrar supersalár­ios em Mato Grosso. O prazo para entrega dos dados pelos tribunais se encerra nesta quinta-feira.

Um grupo de trabalho da Corregedor­ia do CNJ deve apresentar nos próximos dias uma proposta para padronizaç­ão de dados de folhas de pagamento de tribunais, para ajudar a mapear potenciais irregulari­dades. /

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