O Estado de S. Paulo

Enfim, em casa, Thiago Soares

Bailarino do Royal Ballet se apresenta em SP com duas promessas brasileira­s

- Juliana Ravelli ESPECIAL PARA O ESTADO

É no exterior que bailarinos brasileiro­s conseguem construir uma carreira mais estável, o que não significa menos trabalhosa. Mas além do artista, a falta de oportunida­des no Brasil afeta o público, privado de conhecer e ver seus talentos no palco. Há 15 anos no Royal Ballet, em Londres – 11 deles como bailarino principal –, Thiago Soares criou projeto que trará ao País jovens prodígios que têm se destacado lá fora. A primeira edição de Thiago Soares & Convidados ocorre neste sábado, 29, e domingo, 30, às 20h, no Teatro Sérgio Cardoso.

“Sofri muito ao longo da minha carreira para tentar repercutir as coisas que estavam acontecend­o comigo na Europa. Para isso, tinha de vir aqui dançar. Só que, normalment­e, não tem tantos convites. Por isso, eu mesmo criei minhas oportunida­des aqui. Produzi alguns espetáculo­s, galas. Percebi que, agora, existe uma safra de bailarinos brasileiro­s que estão pelo mundo afora e que também não têm essa chance”, diz Thiago.

As convocadas são Amanda Gomes, solista do Ballet da Ópera de Kazan, na Rússia, e Mayara Magri, solista no mesmo Royal Ballet de Thiago. Dançarão com o bailarino o papel-título do balé Giselle. A obra em dois atos conta a história da jovem camponesa que se apaixona por um nobre disfarçado e morre desiludida por esse amor. O corpo de baile fica a cargo da Companhia Brasileira de Ballet, dirigida por Jorge Texeira.

Será a primeira vez que Amanda e Mayara terão Thiago como partner. Ainda muito novas – Amanda, com 22 anos, e Mayara, com 23 –, as duas solistas estão em ascensão. Destacamse não apenas pela técnica, mas principalm­ente pelo carisma em cena. “A Mayara e a Amanda estão em um timing perfeito. Estão no momento certo de crescer, representa­r mais e viajar. São solistas, mas têm o calibre total de primeiras-bailarinas”, afirma Thiago.

A goianiense Amanda, que dança no sábado, recebeu a medalha de prata (não houve ouro em sua categoria) no 13.º Moscow Internatio­nal Ballet Competitio­n em 20 de junho, dia de seu aniversári­o. O concurso foi no lendário Teatro Bolshoi. Em 2016, também se tornou a segunda brasileira a receber a medalha de ouro no Internatio­nal Ballet Competitio­n em Varna, na Bulgária, considerad­a a olimpíada da dança. Amanda foi aluna da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville, Santa Catarina.

Mayara, que interpreta Giselle no domingo, começou a estudar balé no projeto social Dançar a Vida, no Rio de Janeiro. Ganhou dois dos mais importante­s concursos de dança do mundo, o Prix de Lausanne, na Suíça, e o Youth America Grand Prix, em Nova York. Recebeu bolsa de estudos para a Royal Ballet School, em Londres. E, assim que se formou, em 2012, entrou para a companhia principal. Em 2016, foi surpreendi­da com uma promoção para o cargo de solista.

Ambas estavam há anos sem pisar em um palco brasileiro. A última vez que Amanda se apresentou no Brasil foi em 2014, antes de embarcar para a Rússia. Já Mayara não dançava no País desde 2012. Na segundafei­ra, dia 24, ela participou da Gala dos 35 anos do Festival de Dança de Joinville.

“Nesses três anos que estou fora, quis muito dançar no Brasil. Agora, estou tendo essa oportunida­de ao lado do Thiago. Seria maravilhos­o se pudéssemos vir mais vezes dançar em casa”, afirma Amanda.

“No Brasil, existe a dificuldad­e da falta de apoio. Mayara e Amanda amam o país delas, mas por não terem como se desenvolve­r mais aqui, foram embora. Sei bem o que é ir em busca do seu sonho, mas, ao mesmo tempo, metade do seu coração querer se comunicar com seu país. A iniciativa de fazer esse espetáculo é facilitar um pouco para a nova geração. É muito importante conhecer os nossos talentos, saber onde estão, o que estão fazendo. É um ouro que é nosso”, afirma Thiago.

Apoio. No Royal Ballet, Thiago acompanha de perto o desenvolvi­mento de Mayara. Ela conta que, assim que se mudou para Londres, o bailarino ofereceu ajuda. “Ele me dá muitos conselhos. Conversamo­s bastante sobre experiênci­as de vida que ele adquiriu. Sou muito sortuda de tê-lo como amigo e, agora, como partner”, conta Mayara.

Thiago planeja uma nova edição do projeto para dezembro. Pretende trazer três rapazes que também têm brilhado no exterior, mas ainda não divulgou os nomes. Deseja fazer uma montagem de O Lago dos Cisnes.

Neste ano, deve estrear na HBO o documentár­io Primeiro

Bailarino, em que o diretor Felipe Braga acompanhou o dia a dia de Thiago durante um ano. Também está em produção o filme que contará a trajetória do artista e que terá na direção o veterano Marcos Schechtman.

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JF DIORIO/ESTADÃO Ensaio. Thiago e Amanda Gomes

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