Acabou a blindagem
A descoberta de que, nomeado, Bendine negociou recebimento de propina mostra que troca de presidente na Petrobrás foi nominal, não nas práticas.
São muitos os desdobramentos da prisão de Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobrás e do Banco do Brasil, na Lava Jato. O primeiro deles é para a imagem da companhia no momento em que ela procurava se mostrar saudável, como classificou Pedro Parente em entrevista: é a primeira vez que a operação chega a um ex-presidente da companhia, e atinge justamente aquele designado já depois do escândalo revelado, e que assumiu com a missão de sanear a empresa.
Até aqui, os presidentes da estatal, mesmo os que a comandaram durante o período em que todas as diretorias eram dominadas pelo petrolão, escaparam das investigações. José Sergio Gabrielli passou incólume à prisão de diretores, gerentes, empresários, foi figura ausente em delações, não teve contas descobertas no exterior, não é alvo de inquéritos. Nada.
Por diversas vezes questionei integrantes das investigações a respeito, e as respostas são sempre evasivas. Por quê? A explicação mais recorrente é que existiria uma espécie de acordo tácito na força-tarefa de que atingir presidentes da Petrobrás implicaria admitir que a empresa praticou os crimes do petrolão, quando, pela narrativa adotada, ela foi vítima da pilhagem.
Ainda que “Dida” tenha recebido propina anterior a seu ingresso na Petrobrás, foi sua nomeação e o que ela implicaria aos interesses da Odebrecht que aceleraram o pagamento do pixuleco. Bendine assumiu quando Graça Foster se tornou inviável. Dilma procurou nomes do mercado, mas encontrou dificuldades. Optou pelo então presidente do BB, que, para aplacar a imagem associada ao PT, levou consigo o diretor financeiro do banco, Ivan Monteiro, de excelente trânsito no mercado. A descoberta de que, já nomeado, Bendine negociou o recebimento de propina mostra que a troca foi apenas nominal, não nas práticas.