O Estado de S. Paulo

J&F recusou proposta de R$ 4 bi pela Alpargatas

Grupo dos irmãos Batista vendeu, há duas semanas, dona da Havaianas por R$ 3,5 bi

- Ana Paula Ragazzi ESPECIAL PARA O ESTADO

Ao vender o controle da Alpargatas para o grupo de investidor­es formado por Cambuhy, Itaúsa e Brasil Warrant por R$ 3,5 bilhões, a J&F Investimen­tos deixou na mesa uma proposta 15%, ou R$ 500 milhões, mais alta. Outro consórcio – formado pela consultori­a Visagio e pelas gestoras de recursos cariocas Squadra e Var Capital – ofereceu R$ 4 bilhões pela companhia.

Em 11 de julho, uma terça-feira, Joesley Batista recebeu para um jantar em sua casa representa­ntes desse outro grupo de investidor­es, liderado pela Squadra. Eles saíram de lá com a certeza de que Joesley tinha se interessad­o pelo que ouviu, pois foram convidados a iniciar a auditoria na empresa. Em vez disso, souberam, no dia seguinte, pela imprensa sobre a venda para o grupo concorrent­e.

Segundo fontes que acompanhar­am a venda da Alpargatas, processo iniciado por causa dos desdobrame­ntos das delações dos controlado­res da J&F, houve várias propostas pela empresa. Apesar de as cifras oferecidas terem sido diferentes, o negócio sairia, no fim das contas, por valores próximos ou até inferiores a R$ 3,5 bilhões, em função das condições impostas pelos interessad­os.

Essas condições incluiriam o cumpriment­o de metas de negócio pela Alpargatas, mais tempo para uma auditoria na empresa e também mecanismos de proteção referentes ao acordo de leniência firmado pela J&F com o Ministério Público Federal.

O objetivo era evitar que revelações dos irmãos Batista pudessem respingar de alguma forma na Alpargatas. Entre as preocupaçõ­es estava o fato de que a J&F havia comprado o controle da dona da Havaianas, no fim de 2015, da Camargo Corrêa – envolvida na Lava Jato – com um empréstimo em condições favoráveis concedido pela Caixa Econômica Federal.

Pressa. O Cambuhy – veículo de investimen­to da família Moreira Salles – havia olhado o ativo em novembro de 2015 e, por isso, tinha mais conhecimen­to

sobre a empresa do que os grupos que começaram a analisar o negócio mais recentemen­te. Já as gestoras cariocas teriam pedido 15 dias extras para examinar os números da empresa.

A Squadra confirmou a negociação e a proposta, formulada após seis executivos terem dedicado quatro semanas à análise da empresa. A ideia era captar um novo fundo de investimen­tos, de R$ 4 bilhões, que já estava com dinheiro comprometi­do por dez investidor­es.

O sócio-fundador da Squadra, Guilherme Aché, disse que a Alpargatas é um negócio que poderia ter um resultado melhor, pois é dono de uma marca reconhecid­a internacio­nalmente. No entanto, a empresa tem margem de lucro inferior à de concorrent­es como Grendene (dona de Rider e Ipanema) e Vulcabrás (Azaleia e Olympikus).

O objetivo de Aché e seus associados seria levar uma cultura de “dono” e repetir na empresa o modelo de gestão implementa­do pelo trio de investidor­es na Imaginariu­m, varejista de artigos de decoração e presentes.

Experiênci­a. A Var Capital é uma administra­dora de recursos criada por Luis Moura depois que ele deixou a 3G Capital, onde atuou até 2011. A Visagio é uma consultori­a de gestão que nasceu em 2003 no parque tecnológic­o da Coppe/UFRJ.

A Squadra foi fundada em 2008 por ex-executivos de Pactual, Dynamo e JGP. Em 2011, a gestora apontou o uso da contabilid­ade criativa que dificultav­a o entendimen­to dos balanços de companhias que faziam aquisições a toque de caixa. Nos últimos dois anos, trabalhou por mudanças nos conselhos da BR Malls (de shopping centers) e da CVC (operadora de turismo) para revistar a política de remuneraçã­o dessas empresas. A Squadra administra R$ 5,5 bilhões e investe em Equatorial Energia, Ultrapar, Bradesco e B3.

Procurada, a J&F não comentou o assunto.

 ?? SERGIO NEVES/ESTADÃO - 2/9/2010 ?? Tempo. Gestoras cariocas e consultori­a ofereceram R$ 500 milhões a mais, mas pediram 15 dias para analisar balanços
SERGIO NEVES/ESTADÃO - 2/9/2010 Tempo. Gestoras cariocas e consultori­a ofereceram R$ 500 milhões a mais, mas pediram 15 dias para analisar balanços

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