O Estado de S. Paulo

Cunha influencia ‘seus asseclas’ na Câmara, diz Janot

Em parecer ao STF, procurador-geral defende manutenção de prisão de deputado cassado

- Rafael Moraes Moura

Ao defender ontem a prisão preventiva de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o deputado cassado tem “potencial delitivo” e, mesmo sem mandato, mantém influência na Câmara dos Deputados.

Para Janot, Cunha tem a “capacidade de influencia­r seus asseclas, ainda ocupantes de cadeiras no Congresso Nacional, do que propriamen­te no abuso das prerrogati­vas de parlamenta­r”.

Janot se manifestou ontem ao Supremo Tribunal Federal após a defesa de Cunha interpor um recurso ordinário em habeas corpus contra o acórdão da 5.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que manteve a prisão preventiva determinad­a pelo juiz federal Sérgio Moro. O relator do caso no STF é o ministro Edson Fachin.

“Nem mesmo o afastament­o do posto de presidente da Câmara dos Deputados, a assunção da condição de réu em diversas ações penais e a imposição da grave medida cautelar desviaram-no do caminho da ilicitude, o que impôs ao juízo sentencian­te manter a segregação para evitar a reiteração delitiva”, escreveu Janot em sua manifestaç­ão.

Janot também ressaltou que a decretação da prisão preventiva é cabível quando se verifica que a existência de contas no exterior, ainda não bloqueadas ou sequestrad­as, configura situação de “delinquênc­ia permanente e risco concreto de fuga”.

“Ainda há valores de titularida­de do recorrente depositado­s em ao menos duas contas registrada­s em nome de offshores no exterior que ainda não foram objeto de sequestro e repatriaçã­o”, escreveu o procurador-geral da República.

De acordo com Janot, algumas das transferên­cias entre contas offshores no exterior “resultaram na impossibil­idade, até o momento, de que tais valores fossem bloqueados pela Justiça brasileira”. “Tudo isso, assim como a atualidade e gravidade concreta desses delitos, está demonstrad­o por um robusto conjunto de provas concretas. E essa conjuntura

fática peculiar até hoje não se alterou”, disse Janot.

Cunha foi condenado em março deste ano na Lava Jato por Moro a 15 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e de evasão fraudulent­a de divisas. Ele foi condenado em ação sobre propinas na compra do campo petrolífer­o de Benin, na África, pela Petrobrás, em 2011. Procurada, a defesa de Cunha não respondeu à reportagem.

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RODOLFO BUHRER/REUTERS - 20/10/2016 Recurso. Defesa pedia liberdade de Cunha

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