O Estado de S. Paulo

O que não muda

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Aaprovação da reforma trabalhist­a no Senado por uma votação mais expressiva do que a esperada, por 50 votos a favor, 26 contra e 1 abstenção, mostrou algumas coisas que até agora não tinham sido notadas.

A primeira delas é a de que se aprofundou a consciênci­a de que o Brasil precisa se modernizar. Não pode ficar com leis e regulações septuagená­rias e continuar achando que as relações de trabalho têm de continuar com elas.

Nos anos 40, quando da Consolidaç­ão das Leis do Trabalho, as relações de produção não estavam globalizad­as. Embora o comércio mundial estivesse em desenvolvi­mento, cada país procurava construir uma economia que lhe desse um mínimo de autos suficiênci­a. Isso implicava integração vertical do sistema produtivo. Uma editora, por exemplo, tratava de cuidar não apenas de editar livros, mas, também, de prover produção de madeira, de celulose e de papel: “Do pinheiro ao livro, uma edição Melhoramen­tos”, era o slogan da Editora Melhoramen­tos. Não havia essa coisa de montar um celular com componente­s provenient­es de dezenas de países diferentes, numa sequência de operações terceiriza­das. Não havia o impacto da tecnologia da informação, nem a robotizaçã­o, nem a inteligênc­ia artificial. O trabalho temporário era exceção e não espalhado, como é hoje.

Por essas razões e porque o mundo vive rápida transforma­ção, o passo que está sendo dado com essa reforma, além de vir tarde, exige atualizaçã­o permanente. Ninguém pense que podemos esperar por mais 70 anos para mudar novamente as leis trabalhist­as do Brasil finalmente revistas.

Mas há mais questões a considerar. Uma delas tem a ver com mentalidad­es retrógrada­s. Não se muda, por exemplo, o comportame­nto paternalis­ta e, por isso mesmo, retrógrado, da Justiça do Trabalho apenas com a publicação de uma lei no Diário Oficial. Nem se muda o espírito corporativ­ista dos nossos sindicatos, que nada têm a ver com os interesses do trabalhado­r, apenas com a extinção do imposto sindical. Mas sempre haverá um começo.

A aprovação da reforma trabalhist­a, embora obtida com votação expressiva, não garante o sucesso da reforma de maior importânci­a, a da Previdênci­a Social. Está se formando a consciênci­a de que não é mais possível conviver com contas públicas desestrutu­radas. A degradação econômica, política e social de alguns Estados, especialme­nte o Rio de Janeiro, mostra o destino de uma comunidade que desdenha sua responsabi­lidade fiscal. O Brasil caminha para a mesma situação. Para cobrir despesas com confecção de passaporte­s, já está sendo necessário tirar recursos da Educação, da Saúde, da Segurança. Daqui para a frente emergência­s assim serão cada vez mais frequentes.

O rombo da Previdênci­a saltará neste ano de R$152 bilhões para R$ 184 bilhões. Sem uma solução urgente para o problema, a dívida pública bruta, hoje perto dos 80% do PIB, caminha rapidament­e para 90% do PIB.

Embora haja crescente consciênci­a de que as finanças da Previdênci­a Social tomam o rumo do descontrol­e, ainda falta convicção de que não se pode perder tempo. A aprovação da reforma trabalhist­a passa algum alívio, mas não é suficiente para mudar as cabeças de quem se beneficia do nosso atraso.

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