O Estado de S. Paulo

MP do ensino médio tem 567 emendas no Congresso; Supremo pede explicação

Maior parte das sugestões está ligada à manutenção de disciplina­s obrigatóri­as, como Educação Física; ministro Edson Fachin dá dez dias para governo explicar reforma por medida provisória e quer que Advocacia-Geral e Procurador­ia se manifestem

- Rafael Moraes Moura Daiene Cardoso Isabela Bonfim

A reforma do ensino médio proposta pela gestão Michel Temer não terá tramitação fácil nem no Legislativ­o nem no Judiciário. Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin deu prazo de dez dias para explicaçõe­s do presidente. No Congresso, antes mesmo de instalada a comissão mista que vai debater o tema, o texto recebeu 567 sugestões de alteração dos parlamenta­res.

Fachin também pediu esclarecim­entos ao Legislativ­o, no âmbito da ação direta de inconstitu­cionalidad­e movida pelo PSOL. O partido quer suspender imediatame­nte os efeitos da medida, alegando que não há urgência que justifique a edição de MP e o mecanismo atrapalha o debate. O ministro pediu que a advogada-geral da União, Grace Mendonça, e o procurador­geral da República, Rodrigo Janot, também se manifestem. Fachin decidiu submeter o processo diretament­e ao plenário, mas não há previsão de quando o tema será discutido.

Assim como outras MPs que trataram de temas polêmicos, a do ensino médio já figura na lista de propostas com o maior número de emendas no Congresso, como a MP dos Portos, de 2013, com 645. A recordista é a do Código Florestal, de 2012, com 696. De acordo com a secretaria de comissões, a média de apresentaç­ão de emendas em uma MP é de 100.

A maior parte das emendas trata da manutenção de disciplina­s na grade curricular obrigatóri­a do ensino médio, como Educação Física, Filosofia e Artes. “Considero o mais importante a volta da Educação Física”, disse o deputado Chico Lopes (PCdoB-CE), autor de 30 emendas. “O maior choque da MP é essa liberaliza­ção das matérias. É um retrocesso monumental”, criticou o líder da ban- cada do PCdoB na Câmara, Daniel Almeida (BA). O parlamenta­r protocolou 15 emendas.

Ex-secretário da Educação de Pernambuco, o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) teve a colaboraçã­o de entidades civis para 23 emendas, parte mantendo disciplina­s obrigatóri­as. Membro da base aliada, Cabral disse que a reforma via MP não é o caminho mais adequado, reforma e até se ofereceu para relatar o projeto na comissão mista. “Não é a reforma ideal, pois a minha bandeira é a da federaliza­ção da educação. Mas é como a Lei do Ventre Livre: ainda não é a abolição da escravidão, mas é um começo.”

Mesmo simpático ao projeto, Cristovam escreveu 16 emendas. Diferentem­ente de outros parlamenta­res, ele concorda com o fim da obrigatori­edade de cursar Educação Física, Artes e Filosofia – mas sugere que a oferta seja obrigatóri­a e a matrícula, opcional.

Em outra emenda, Cristovam sugere que a permissão para profission­ais de “notório saber” darem aula no ensino médio seja dada mediante a apresentaç­ão de diploma de ensino superior, mesmo que não seja de licenciatu­ra. Ele também pediu que o benefício às famílias do Bolsa Família exija frequência escolar no ensino médio.

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PAULO LIEBERT/ESTADÃO CONTEÚDO-14/11/2012 Na sala de aula. Cristovam Buarque quer ligar a frequência à concessão do Bolsa Família

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