O Estado de S. Paulo

Disputa sobre mandato de Cunha avança para a CCJ

Aliados do deputado confiam na rejeição do parecer pela cassação no Conselho de Ética e batalha deve ser transferid­a para a comissão

- Daiene Cardoso Igor Gadelha

Em um processo que se arrasta há 225 dias, o Conselho de Ética da Câmara se reúne hoje para decidir o destino político do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os aliados do peemedebis­ta estão confiantes de que o pedido de cassação poderá ser rejeitado com a ajuda da deputada Tia Eron (PRB-BA) e adversário­s já admitiam ontem essa possibilid­ade, motivo pelo qual buscam alternativ­as para que o réu na Operação Lava Jato perca o mandato. Independen­temente do resultado no colegiado, os grupos já se preparam para o confronto na próxima instância: a Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ).

“Não temos mais o que fazer no Conselho”, disse Julio Delgado (PSB-MG), um dos que mais operaram pela cassação de Cunha. Sua avaliação era semelhante à de aliados do deputado afastado, que dão como certo que a maioria do colegiado vai derrotar o parecer pela cassação e aprovar o voto em separado do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), que pede a suspensão do mandato do peemedebis­ta por três meses.

“Estou confiante de que a nossa tese será vitoriosa”, disse o vice-líder do PMDB, Carlos Marun (MS). Após a votação no conselho, Marun afirma que vai procurar Cunha para pedir que renuncie ao cargo de presidente da Câmara. Com a renúncia, seus aliados acreditam que será mais fácil negociar um acordão para salvar o mandato do peemedebis­ta. “Como tenho estado na linha de frente dele no Conselho de Ética, me sinto credenciad­o para ter essa conversa, que pode ser difícil, mas é necessária”, afirmou Marun.

No conselho, Cunha é alvo de processo por quebra de decoro parlamenta­r, sob acusação de mentir à CPI da Petrobrás em 2015 ao dizer que não possuía contas secretas no exterior. O peemedebis­ta está afastado da presidênci­a da Câmara desde 5 de maio por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Rito. Qualquer que seja o resultado, os dois lados já se preparam para a disputa na CCJ. Com a aprovação de uma eventual suspensão do mandato, a “tropa de choque” de Cunha afirma que o foco dele será aprovar na comissão uma consulta que altera o rito de votação do processo disciplina­r no plenário. Caso a pro-

Advogado de Renan O advogado Eugênio Pacelli deixou ontem a defesa de Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele era responsáve­l por representa­r o presidente do Senado nos inquéritos da Lava Jato e em outros. posta seja aprovada e acatada pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), Cunha evita que a suspensão seja modificada no plenário por uma pena mais dura: a cassação.

Composta por 66 deputados titulares, a CCJ é a principal comissão da Casa e reúne, em sua maioria, políticos experiente­s. “Aquela consulta não passa na CCJ. Lá é um pessoal mais independen­te, mais gabaritado, exgovernad­ores, ex-prefeitos de capitais, juristas. Acho muito difícil juristas se dobrarem”, disse o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA).

O esforço do grupo contrário ao peemedebis­ta é manter o atual rito de votação, que prevê em última instância a apreciação da representa­ção original que, neste caso, pede a perda do mandato. Pelo número de titulares na CCJ, deputados se dividem sobre quem teria maioria no colegiado. Os dois lados consideram que a disputa na comissão será crucial na definição do futuro de Cunha. Da CCJ, o processo seguirá para o plenário e, como o voto final é aberto, dificilmen­te o peemedebis­ta teria como escapar da cassação devido à pressão popular.

No plenário, são necessário­s 257 votos para que a cassação de Cunha seja aprovada. Hoje, pelo menos nove partidos têm posição declarada a favor da cassação do peemedebis­ta: PT, PC do B, PDT, Rede, PSOL, DEM, PSDB, PSB e PPS. Juntos, eles

somam 218 deputados. Pelas contas dos opositores, os 39 votos necessário­s para alcançar os 257 podem vir facilmente dos dissidente­s do Centrão, que soma cerca de 220 parlamenta­res.

Os conselheir­os que pregam a punição mais severa a Cunha sondaram ontem o relator Marcos Rogério (DEM-RO) sobre a possibilid­ade dele aceitar um aditamento ao parecer. Os deputados querem incluir no relatório final as novas denúncias contra o peemedebis­ta, entre eles o depoimento da própria mulher dele, Cláudia Cruz, a delação pre-

miada do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, apontando a participaç­ão do parlamenta­r em um esquema de pagamento de propina em troca de liberação de verbas do fundo de investimen­tos do FGTS, além de novos documentos que serão encaminhad­os hoje pelo Banco Central. O relator avisou que analisará a proposta.

Tia Eron. Voto de minerva no processo contra Cunha no Conselho de Ética, a deputada Tia Eron (PRB-BA) optou pelo isolamento nos últimos dias.

Com quem conversou, disse que vai participar hoje da votação do parecer que pede a cassação de Cunha, mas não adiantou como votará. Um dos poucos a conversar com ela no fim de semana foi o deputado e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB-SP). “O pessoal pega pesado”, afirmou. Ele disse que apontou para a deputada as consequênc­ias políticas do seu voto e enfatizou que o parecer do deputado Marcos Rogério (DEM-RO) não deixa dúvidas sobre a quebra de decoro parlamenta­r.

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DIDA SAMPAIO / ESTADÃO-1/3/2016 Sessão. Reunião do Conselho de Ética da Câmara, que analisa processo contra Cunha

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