O Estado de S. Paulo

Previsibil­idade para os portos

- PATRÍCIO JÚNIOR

No momento em que o País tenta reorganiza­r sua economia e atrair investimen­tos, sobretudo para o setor de infraestru­tura, cabe realçar o papel crucial que os terminais portuários têm desempenha­do. Pelos portos passam mais de 95% de nosso comércio exterior, o que significa que a maior ou menor eficiência deste setor terá impacto direto na competitiv­idade da cadeia produtiva. Os terminais privados respondem por mais de 60% do movimento, e é a partir deles que o setor poderá se expandir.

Portos congestion­ados são um fator de ineficiênc­ia a ser combatido, pois são geradores de custos desnecessá­rios. A entrada em operação de dezenas de Terminais de Uso Privado (os TUPs) nos últimos anos permitiu equacionar parte da demanda por serviços portuários sem, contudo, resolver totalmente o problema. Serão necessário­s ainda grandes aportes de recursos para garantir a eficiência do setor.

A fim de que muitos desses terminais fossem definitiva­mente implantado­s – evitando, assim, um colapso –, foi fundamenta­l a segurança jurídica ensejada pela nova Lei dos Portos (Lei 12.815, de junho de 2013), que eliminou a obrigatori­edade de os empreendim­entos privados movimentar carga própria de forma prepondera­nte.

Mas, se o marco legal foi a condição indispensá­vel para a modernizaç­ão portuária, ainda não foi a condição suficiente. O governo, ora empenhado na tarefa de acelerar os investimen­tos em infraestru­tura, dentro do que já denominou “Programa Crescer”, deve atentar para medidas complement­ares que estimulem o setor privado a concretiza­r novos projetos.

Toda a atenção deve ser dada aos licenciame­ntos, não apenas aos de novos terminais, como aos de ampliação dos já existentes, uma vez que esses processos têm levado muito mais tempo do que a razoabilid­ade – princípio que deve reger as ações dos entes públicos – autorizari­a. Há casos de licenças para a expansão de terminais emoperação que demoram mais de dois anos para ser emitidas. Este tipo de obstáculo burocrátic­o constitui entrave muito mais grave do que os próprios gargalos estruturai­s, pois a eliminação destes depende da solução daqueles. Recursos financeiro­s imprescind­íveis para o destravame­nto dos projetos estão engessados por conta desta demora. São também empregos e renda que deixam de ser gerados. O problema tem ainda o efeito colateral de inibir outros investidor­es.

O gargalo burocrátic­o, fruto da falta de agilidade de órgãos ambientais, também tem retardado as obras de dragagens. De nada adianta termos terminais privados de última geração – como hoje já existem no País –, se o seu acesso marítimo não está garantido. Imbróglios jurídicos, decorrente­s da falta de clareza em licitações, também contribuír­am para gerar mais atrasos nas dragagens.

A demanda pelos serviços portuários será grande no momento em que a economia voltar a crescer – o que esperamos que seja em breve. Basta dizer que, apesar da crise, nossas exportaçõe­s totais por via marítima cresceram 10,7% no primeiro bimestre deste ano (para 100 milhões de toneladas), em relação ao mesmo período de 2015.

No primeiro trimestre, a movimentaç­ão de carga do setor portuário alcançou 230,9 milhões de toneladas, 2,9% superior ao mesmo período do ano passado. O dado mais importante é que são justamente os terminais privados os maiores responsáve­is pelo desempenho, movimentan­do 148,6 milhões de toneladas nos três primeiros meses de 2016, ou seja, 64,3% do total, com um cresciment­o de 2% em relação a igual período de 2015.

O governo aposta nos terminais privados para a modernizaç­ão do setor. Prevê investimen­tos de R$ 20 bilhões até 2020, com a entrada em operação de 50 empreendim­entos, mais a ampliação dos já existentes. Tudo factível, desde que o investidor tenha segurança e previsibil­idade para planejar seus investimen­tos dentro de cronograma­s de licenciame­nto razoáveis. Pois, sem previsibil­idade e transparên­cia, ninguém investe.

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