O Estado de S. Paulo

Dilma admite plebiscito caso Senado não aprove impeachmen­t

A afirmação da petista foi dada em entrevista à TV Brasil; EBC diz que também convidou Temer para futura participaç­ão

- Fábio Grellet /

Em entrevista veiculada ontem à noite pela TV Brasil, a presidente afastada Dilma Rousseff admitiu uma “consulta popular” caso o Senado não aprove o impeachmen­t e ela reassuma a Presidênci­a da República. “Que se recorra à população para ela dizer... pode ser um plebiscito, eu não vou dar o menu total, mas essa é uma coisa que está sendo muito discutida”, afirmou Dilma, sem explicar a que se referia. Muitos políticos, inclusive da base de apoio da petista, defendem que, caso ela volte ao cargo, convoque novas eleições presidenci­ais. Dilma nunca havia se manifestad­o sobre essa hipótese.

A entrevista, gravada, durou uma hora e foi feita pelo jornalista Luis Nassif. Quando ele perguntou como imagina o dia seguinte, caso o Senado não aprove o impeachmen­t, ela afirmou: “Rompeu-se um pacto, que vinha desde a Constituiç­ão de 1988, e tem que remontar esse pacto. Eu não acredito que se remontará esse pacto dentro de gabinete. A população terá que ser consultada”.

Ao criticar o governo do presidente em exercício Michel Temer, Dilma também se referiu a uma consulta ao povo. “A consulta popular é o único meio de lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer.”

Dilma afirmou que Temer é manipulado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “O governo Temer é a síntese do que pensa Eduardo Cunha, o governo Temer expressa claramente a pauta do Eduardo Cunha”. A petista mais uma vez negou ter cometido crime de responsabi­lidade: “Não tem base jurídica. No Plano Safra, eu não assinei uma vírgula, e um dos executores é hoje ministro do Planejamen­to”, afirmou, referindo- se a Dyogo Henrique Oliveira, que substituiu Romero Jucá.

Ao anunciar a entrevista com Dilma, a Empresa Brasil de Comunicaçã­o (EBC), que pertence ao governo federal e controla a TV Brasil, destacou que também pediu entrevista­s, no mesmo formato, ao presidente em exercício Michel Temer, ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowsk­i.

Carta. Dilma prepara carta de compromiss­os para o “novo governo” caso consiga reverter o processo de impeachmen­t no Senado. O documento será entregue às frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e vai indicar a intenção de uma guinada à esquerda. Hoje, as duas frentes promovem atos contra Temer em 40 cidades do País e em outras 16 dos EUA e Europa. Omaior deles está marcado para a Avenida Paulista, em São Paulo. A presidente afastada incluiu o ato em sua agenda, mas sua participaç­ão vai depender das condições de segurança.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil