O Estado de S. Paulo

Karsten deixa de pagar a bancos R$ 237 milhões em títulos de dívida

- Josette Goulart

A Karsten, empresa catarinens­e do setor têxtil, deixou de pagar R$ 237 milhões em debêntures (títulos de dívidas emitidas por empresas privadas) que foram adquiridas por um grupo de bancos, que agora cobra a conta na Justiça e pede a penhora das contas da companhia e de seus acionistas. Os bancos alegam que a empresa feriu uma série de cláusulas, entre elas o não pagamento de juros e parcelas de amortizaçã­o, que antecipara­m o vencimento da dívida.

A situação financeira da companhia é bastante delicada, com diversos indicadore­s de liquidez no vermelho. Com persistent­es prejuízos desde 2014 que se acumulam em R$ 260 milhões, o balanço da empresa já está há alguns trimestres apresentan­do patrimônio líquido negativo. Isso significa que o valor total do que deve a credores é maior do que tudo o que possui. Ou seja: se vender lojas, fábricas, produção, não consegue pagar as dívidas. No primeiro trimestre deste ano, o patrimônio líquido estava negativo em R$ 129 milhões.

Outro indicador que foi para a linha vermelha neste início de ano foi o que compara os ativos circulante­s (dinheiro em caixa e contas a receber) com as dívidas de curto prazo. Este indicador ficou negativo em mais de R$ 200 milhões, reflexo da transferên­cia da dívida das debêntures para a linha de obrigações de curto prazo.

Segundo notas explicativ­as do balanço do primeiro trimestre, as debêntures têm vencimento em 2017. Mas os bancos já estão cobrando na Justiça, alegando que a empresa deixou de cumprir cláusulas do empréstimo. Além de não ter pago juros e parcelas de amortizaçã­o, a companhia também deixou de transferir duplicatas que deveriam ter sido dada em garantias. As debêntures estão hoje nas mãos de seis bancos: Banco do Brasil, Bradesco, HSBC, Itaú, Santander e Votorantim.

As dificuldad­es da empresa já começaram a ser sentidas mais seriamente em 2014. O controle da companhia, com sede em Blumenau (SC), foi vendido para os ex-donos do grupo Dudalina. Ar- mando e Rui Hess de Souza que investiram R$ 35 milhões na companhia, evitando na época que a empresa seguisse o rumo de outras concorrent­es do setor que, acabaram pedindo recuperaçã­o judicial.

Por e-mail, a empresa infor- mou que as principais dificuldad­es que vive neste momento estão relacionad­as à crise que o Brasil atravessa, na qual o consumidor final perdeu poder de compra. A companhia descarta entrar em recuperaçã­o judicial, diz que ainda está em negociaçõe­s com os bancos e que seu patrimônio é suficiente para pagar as instituiçõ­es financeira­s.

Em seu balanço, a administra­ção informa que estão sendo tomadas medidas para manter a companhia em operação, como melhoria nos processos internos, investimen­tos na aquisição de máquinas e equipament­os de última geração para reduzir custos, abertura de lojas, melhoria do mix de produtos, qualificaç­ão da equipe de vendas do canal multimarca­s. A companhia cita também a “retomada das negociaçõe­s com credores das debêntures de forma a adequar o pagamento das debêntures à previsão de geração de caixa da Companhia”.

Os bancos, no entanto, entraram na Justiça na semana passada. As instituiçõ­es não comentaram, e o advogado Gustavo Tepedino, que assessora os bancos, não retornou as ligações.

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DIVULGAÇÃO Dificuldad­es. Karsten relaciona seus problemas à crise e descarta recuperaçã­o judicial

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