O Estado de S. Paulo

Meirelles quer reforma para trabalhado­r hoje na ativa

Para ministro, mudança na Previdênci­a só para quem entra no mercado é ‘má solução’

- Eduardo Rodrigues Adriana Fernandes Rachel Gamarski /

Ainda sem informar o tamanho real do rombo das contas governamen­tais este ano, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ameaçou ontem fazer mais e maiores cortes nos gastos federais caso o governo não consiga aprovar uma reforma da Previdênci­a que valha também para os trabalhado­res ainda na ativa. Foi a primeira vez que uma autoridade do governo falou claramente em alterar direitos já em vigor. Não fazer isso, na avaliação do ministro, seria uma “má solução” para a Previdênci­a e não ajudaria a solucionar os problemas fiscais que estão no centro da crise brasileira.

Se as reformas desejadas pela nova equipe forem aprovadas, Meirelles disse que a economia pode voltar a crescer já nos próximos trimestres. “Se o regime de Previdênci­a for alterado apenas para quem não entrou ainda no mercado de trabalho, ótimo, muito bom. Por outro lado, isso só vai fazer efeito num prazo muito longo. Para a dívida pública é uma má solução”, argumentou, em entrevista a um grupo de jornalista­s.

“Se não for isso, temos de discutir quais outras despesas públicas terão de ser cortadas nos próximos anos. Queremos garantir a aposentado­ria dos trabalhado­res e a solvência do Tesouro Nacional”, completou.

Ainda assim, Meirelles evitou classifica­r como “inegociáve­is” pontos da proposta emestudo pelo governo e que deve ser apresentad­a em até 30 dias. Mas reforçou que a colocação de uma idade mínimapara­a aposentado­ria – defendida por ele desde o dia emque assumiu o cargo – é um dos fatores que têm “mais peso” no modelo que está sendo desenhado.

Em entrevista ao SBT, quando questionad­o se defendia uma idade mínima igual, de 65 anos, para homens e mulheres, o ministro disse apenas que essa é uma regra aplicada em vários países, mas que todas as alternativ­as ainda estão em estudo.

Consciente da resistênci­a que

A declaração do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de que a alteração na Previdênci­a deve afetar trabalhado­res na ativa foi criticada pela Central Única de Trabalhado­res (CUT). Para João Cayres, diretor nacional da entidade e secretário-geral da CUT/SP, alterações na Previdênci­a para trabalhado­res na ativa são uma quebra de con- trato. “Não vamos aceitar isso, mexer com as pessoas que já estão no mercado de trabalho é mudar a regra no meio do jogo.”

A CUT também não concorda com a ideia de fixar a idade mínima. “Essa mudança é uma injustiça e vai prejudicar principalm­ente as pessoas mais pobres, porque elas geralmente começam a trabalhar mais cedo”, diz o secretário-geral da CUT/SP.

Na segunda-feira, o presidente em exercício, Michel Temer, convocou centrais sindicais para discutir a reforma da Previdênci­a. A CUT decidiu não participar da reunião. “Não queremos negociar com um governo que consideram­os ilegítimo e golpista, a Previdênci­a está na nossa agenda de lutas junto com a questão do impeachmen­t”, disse Cayres.

Para ele, a existência do rombo na Previdênci­a é discutível. “O assunto precisa ser tratado com mais transparên­cia para termos certeza de que há o rombo. Se existir, a solução talvez seja fazer uma reforma tributária em que as pessoas mais abastadas contribuam mais e compensem a Previdênci­a.”/ tória da dívida pública. Há a expectativ­a de que em dois, três ou quatro anos esse resultado pode ser possível

Bancos Apesar de prometer um anúncio conjunto da equipe, afirmou que só irá pensar nos bancos públicos a partir de hoje

Vinculaçõe­s a reforma terá em diversos segmentos – mesmo com a ampla base de apoio do governo no Congresso Nacional – o ministro tem claro que a comunicaçã­o da proposta terá de ser bem feita. “As pessoas dizem que um mês (para apresentar a proposta) é muito tempo, mas uma Reforma da Previdênci­a feita em uma semana seria uma coisa malfeita, não seria aprovada e nem iria funcionar. Trata-se de um trabalho técnico, mas ao mesmo tempo político e social. A sociedade tem de ser convencida do que é preciso fazer.”

Sem prometer um prazo para que o Brasil saia da crise, Meirelles disse esperar que a retomada da atividade econômica ocorra já nos próximos trimestres, mesmo admitindo que as reformas terão impacto maiorno mandatodo próximo presidente da República.

Confiança. Com apenas seis dias no cargo, ele relatou já ter sido procurado por executivos de empresas globais que estariam começando a desengavet­ar planos de investimen­tos no País. “É prematuro fazer previsões, mas esperamos a retomada de atividade nos próximos trimestres. Não serão necessário­s anos. Quanto mais rápidas as medidas forem adotadas, mais precisas serão essas previsões.”

Meirelles analisou que o retorno das bases para o cresciment­o da economia depende sobretudo da volta da previsibil­idade para os investimen­tos após um período de retrocesso­s na confiança do mercado.

O maior trunfo, na opinião do ministro, é a manutenção do mercado de consumo. “O desemprego aumentou, mas o número de empregados hoje é maior do que era há 15 anos. A classe média cresceu e está aí, apesar de estar sofrendo nos últimos tempos”, afirmou. Sugeriu um corte nas vinculaçõe­s constituci­onais como uma das possíveis medidas e disse que essa, assim como a possibilid­ade de criar um teto para o gasto, é uma medida exemplific­ativa

Medidas Disse que não enfraquece­rá medidas com anúncio precipitad­o para satisfazer analistas, jornalista­s, banqueiros ou empresário­s

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Comunicaçã­o. ‘A sociedade tem de ser convencida do que é preciso fazer’, diz Meirelles

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