Ônibus devem parar de novo por 2h hoje
Paralisação ontem, em 29 terminais, atingiu 1,5 milhão de pessoas; eles querem aumento real de 5%. Trânsito ficou complicado na cidade
Motoristas e cobradores de ônibus fecharam por duas horas todos os 29 terminais de ônibus na capital paulista, na manhã de ontem. O ato pegou diversos passageiros de surpresa e, segundo a Prefeitura, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram atingidas pela paralisação. A categoria promete nova manifestação hoje caso não haja acordo com o sindicato patronal.
Com chuva e paralisação dos ônibus, o trânsito da capital paulista ficou acima da média por cerca sete horas. A alta no congestionamento começou às 9h30 e só voltaria para a média diária pouco antes das 17 horas, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). No horário de maior trânsito, às 11 horas, São Paulo registrou 115 quilômetros de lentidão.
Os trabalhadores reivindicam aumento real de 5% no salário, reajuste do tíquete refeição de R$ 19 para R$ 25 e participação nos lucros de R$ 2 mil – o dobro do valor pago no ano passado. A pauta também inclui convênio odontológico gratuito, seguro de vida e auxílio funeral. Já a proposta das empresas de transportes foi de reajuste salarial de 2,31%, abaixo da inflação, e do tíquete refeição.
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Funcionários do Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotoristas), Valdevan Noventa, afirmou que está previsto novo ato hoje, das 14 às 16 horas. A categoria também fará assembleia amanhã, às 16 horas, para decidir se entra em greve a partir da próxima semana. “Caso não haja acordo, com certeza a população vai ser a mais prejudicada”, disse.
Paralisação. Em campanha salarial, os motoristas estacionaram os ônibus, bloquearam os terminais e cruzaram os braços das 10 horas ao meio-dia. “Essa manifestação é justamente para chamar atenção dos responsáveis que administram a cidade e o transporte”, afirmou Noventa, no Terminal Parque D. Pedro II, região central.
O porteiro Yul Paulino, de 53 anos, chegou ao terminal dez minutos antes da paralisação, mas não conseguiu embarcar. Morador de Cidade Tiradentes, na zona leste, ele costuma gastar cerca de três horas para chegar a Santo Amaro, na zona sul, onde trabalha. “Não sabia que ia ter paralisação”, disse. “É uma palhaçada. Se quer negociar, que vá para a mesa de reunião.”
Com a filha de 8 meses no colo, a comerciante Beatriz Correia, de 19 anos, era mais uma que não sabia do ato. “Minha fi- lha tinha consulta no médico hoje, não podia faltar, mas precisei mandar uma mensagem para o trabalho, avisando que ia atrasar”, disse. Aos 68 anos e operada do fêmur, a doméstica Gelza Souza também foi pega desprevenida após sair de uma consulta médica. “Resolveram parar logo em dia de chuva. Prejudica, mas a gente também precisa entender que é bom para eles. Sem o motorista, ninguém anda na cidade.”
A professora Manuela Barbosa, de 56 anos, precisou aguardar mais de uma hora no Terminal Bandeira, também no centro, para tomar um ônibus para casa. “Sou a favor de protesto, mas desde que se comunique à população, para todo mundo se organizar”, afirmou. “A gente sai de casa e fica sem saber o que fazer com os terminais bloqueados.”
Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) classificou a manifestação de motoristas e cobradores de “desnecessária”. Segundo a SPUrbanuss, a reposição salarial de 2,31% foi a “proposta possível diante de um quadro de recessão econômica, aumento dos insumos do transporte público e queda da demanda de passageiros”. Segundo a nota, as negociações ainda não foram encerradas.
“Temos acompanhado ( a negociação) para que a SPUrbanuss e o sindicato dos trabalhadores entrem em acordo, pedindo bom senso”, afirmou o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, à Rádio Estadão. “A Prefeitura tem pagado em dia suas obrigações contratuais com esses concessionários. Mesmo ( a paralisação) sendo pontual, fora do horário de pico, acaba causando transtorno grande.” A Prefeitura disse que acompanha a questão por ser um serviço essencial, usado por 4,5 milhões de pessoas por dia.