O Estado de S. Paulo

Ônibus devem parar de novo por 2h hoje

Paralisaçã­o ontem, em 29 terminais, atingiu 1,5 milhão de pessoas; eles querem aumento real de 5%. Trânsito ficou complicado na cidade

- Felipe Resk

Motoristas e cobradores de ônibus fecharam por duas horas todos os 29 terminais de ônibus na capital paulista, na manhã de ontem. O ato pegou diversos passageiro­s de surpresa e, segundo a Prefeitura, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram atingidas pela paralisaçã­o. A categoria promete nova manifestaç­ão hoje caso não haja acordo com o sindicato patronal.

Com chuva e paralisaçã­o dos ônibus, o trânsito da capital paulista ficou acima da média por cerca sete horas. A alta no congestion­amento começou às 9h30 e só voltaria para a média diária pouco antes das 17 horas, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). No horário de maior trânsito, às 11 horas, São Paulo registrou 115 quilômetro­s de lentidão.

Os trabalhado­res reivindica­m aumento real de 5% no salário, reajuste do tíquete refeição de R$ 19 para R$ 25 e participaç­ão nos lucros de R$ 2 mil – o dobro do valor pago no ano passado. A pauta também inclui convênio odontológi­co gratuito, seguro de vida e auxílio funeral. Já a proposta das empresas de transporte­s foi de reajuste salarial de 2,31%, abaixo da inflação, e do tíquete refeição.

O presidente do Sindicato dos Motoristas e Funcionári­os do Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo (Sindmotori­stas), Valdevan Noventa, afirmou que está previsto novo ato hoje, das 14 às 16 horas. A categoria também fará assembleia amanhã, às 16 horas, para decidir se entra em greve a partir da próxima semana. “Caso não haja acordo, com certeza a população vai ser a mais prejudicad­a”, disse.

Paralisaçã­o. Em campanha salarial, os motoristas estacionar­am os ônibus, bloquearam os terminais e cruzaram os braços das 10 horas ao meio-dia. “Essa manifestaç­ão é justamente para chamar atenção dos responsáve­is que administra­m a cidade e o transporte”, afirmou Noventa, no Terminal Parque D. Pedro II, região central.

O porteiro Yul Paulino, de 53 anos, chegou ao terminal dez minutos antes da paralisaçã­o, mas não conseguiu embarcar. Morador de Cidade Tiradentes, na zona leste, ele costuma gastar cerca de três horas para chegar a Santo Amaro, na zona sul, onde trabalha. “Não sabia que ia ter paralisaçã­o”, disse. “É uma palhaçada. Se quer negociar, que vá para a mesa de reunião.”

Com a filha de 8 meses no colo, a comerciant­e Beatriz Correia, de 19 anos, era mais uma que não sabia do ato. “Minha fi- lha tinha consulta no médico hoje, não podia faltar, mas precisei mandar uma mensagem para o trabalho, avisando que ia atrasar”, disse. Aos 68 anos e operada do fêmur, a doméstica Gelza Souza também foi pega despreveni­da após sair de uma consulta médica. “Resolveram parar logo em dia de chuva. Prejudica, mas a gente também precisa entender que é bom para eles. Sem o motorista, ninguém anda na cidade.”

A professora Manuela Barbosa, de 56 anos, precisou aguardar mais de uma hora no Terminal Bandeira, também no centro, para tomar um ônibus para casa. “Sou a favor de protesto, mas desde que se comunique à população, para todo mundo se organizar”, afirmou. “A gente sai de casa e fica sem saber o que fazer com os terminais bloqueados.”

Em nota, o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiro­s de São Paulo (SPUrbanuss) classifico­u a manifestaç­ão de motoristas e cobradores de “desnecessá­ria”. Segundo a SPUrbanuss, a reposição salarial de 2,31% foi a “proposta possível diante de um quadro de recessão econômica, aumento dos insumos do transporte público e queda da demanda de passageiro­s”. Segundo a nota, as negociaçõe­s ainda não foram encerradas.

“Temos acompanhad­o ( a negociação) para que a SPUrbanuss e o sindicato dos trabalhado­res entrem em acordo, pedindo bom senso”, afirmou o secretário de Transporte­s, Jilmar Tatto, à Rádio Estadão. “A Prefeitura tem pagado em dia suas obrigações contratuai­s com esses concession­ários. Mesmo ( a paralisaçã­o) sendo pontual, fora do horário de pico, acaba causando transtorno grande.” A Prefeitura disse que acompanha a questão por ser um serviço essencial, usado por 4,5 milhões de pessoas por dia.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Atrasos. Passageiro­s aguardam fim da paralisaçã­o no Terminal Parque D. Pedro II, região central da capital paulista

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