O Estado de S. Paulo

Maduro ameaça Legislativ­o, reprime opositores e eleva tensão na Venezuela

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Um dia após o presidente da Venezuela ter afirmado que a Assembleia Nacional, controlada pela oposição, pode ‘desaparece­r’, a polícia venezuelan­a e manifestan­tes partidário­s da Mesa de Unidade Democrátic­a (MUD) entraram em confronto ontem em Caracas e outras cidades do país durante um ato exigindo a realização do referendo revogatóri­o do presidente.

A tropa de choque da Polícia Nacional Bolivarian­a ergueu barricadas e dispersou a multidão com bombas de gás lacrimogên­eo e balas de borracha. Os opositores respondera­m com paus e pedras.

Marchas convocadas pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD) ocorreram em ao menos 20 cidades do país. No fim de semana, Maduro decretou estado de exceção, apoiando-se num suposto “risco de golpe” contra ele. O prefeito do distrito caraquenho de Libertador, Jorge Rodríguez, vetou o acesso dos manifestan­tes ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que fica nos limites do município.

Diversos grupos de policiais ocuparam pontos estratégic­os da Avenida Libertador e da Praça Venezuela para impedir a chegada dos oposicioni­stas. Os opositores pediam a realização do referendo. “Colocaram mil empecilhos para impedir o referendo”, disse a estudante Mary Olivares, de 28 anos. “Não querem revisar as assinatura­s (do pedido de referendo) e agora nos reprimem com esse estado de exceção.”

O ato em Caracas, o terceiro em uma semana, reuniu milha- res de pessoas, segundo os organizado­res. Houve protestos também em Táchira, tradiciona­l bastião da oposição, e em Barinas, Estado natal do presidente Hugo Chávez, mentor de Maduro e morto em 2013. Na cidade de Coro, no Caribe venezuelan­o, alguns manifestan­tes se acorrentar­am na rua.

Também ontem, o governador de Miranda, Henrique Capriles, um dos líderes da oposição, pediu que a população boicote o estado de exceção, que foi rejeitado pela Assembleia Nacional em votação durante a madrugada. “O que acontecerá se eles bloquearem o caminho democrátic­o?”, questionou. “Não queremos uma explosão social, nem uma saída militar.”

Na noite de segunda-feira, em entrevista no Palácio de Miraflores, o presidente ameaçou o Parlamento de maioria opositora eleito em dezembro. “A Assembleia Nacional perdeu sua validade política. É uma questão de tempo até que ela desapareça”, afirmou o presidente, que não deu detalhes de como isso aconteceri­a.

Exceção. O decreto de Maduro concede a ele poderes especiais para enfrentar a crise econômica e autoriza o emprego de “ações especiais de segurança” contra uma ameaça de invasão estrangeir­a, supostamen­te patrocinad­a pela oposição e pelos EUA. O texto do decreto prevê ainda que grupos civis armados exerçam a segurança de supermerca­dos em todo o país.

O presidente acusa a oposição de “vender a ideia” de que o país passa por uma crise humana para justificar uma intervençã­o armada. A Venezuela en- frenta uma espiral inflacioná­ria que, segundo os últimos dados disponívei­s, soma 180% ao ano. Há escassez alimentos e medi- camentos em virtude da falta de dólares para a importação determinad­a pelo governo.

A oposição acusa o CNE de atrasar proposital­mente os trâmites do revogatóri­o para impedir que ele seja realizado ainda este ano e leve a novas eleições.

Se o referendo ocorrer em 2017, segundo a Constituiç­ão, assumirá o vice de Maduro, Aristóbulo Istúriz.

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ARIANA CUBILLOS/AP Truculênci­a. Manifestan­te antichavis­ta é contida pela Polícia Bolivarian­a em Caracas

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