O Estado de S. Paulo

Nova equipe terá de correr

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Bem recebida pelo mer c a d o , a n o v a equipe econômica tem a competênci­a necessária, segundo as primeiras avaliações, para cuidar dos danos produzidos na gestão petista, principalm­ente nos cinco anos e quatro meses da presidente Dilma Rousseff – mas uma ressalva é indispensá­vel. Para começar o trabalho com alguma segurança, os novos ministros e seus auxiliares precisam de uma avaliação mais completa dos estragos acumulados. A previsão de um déficit primário de até R$ 96,65 bilhões já estava superada antes da posse do presidente interino Michel Temer. Segundo informaçõe­s do Ministério do Planejamen­to, a nova projeção poderá indicar um buraco de R$ 150 bilhões. O Tesouro, informam as mesmas fontes, po- de ser obrigado a socorrer a Eletrobrás, outra grande estatal incluída nas investigaç­ões da Lava Jato.

Mas é cedo até para aceitar como boa uma projeção de R$ 150 bilhões. O déficit primário, isto é, sem a conta de juros, já passa de R$ 140 bilhões e nada, por enquanto, permite prever uma estabiliza­ção ou ampliação mais lenta do rombo nos próximos meses. O governo precisa de segurança para apresentar qualquer perspectiv­a mais otimista. Isso depende tanto de um diagnóstic­o bem fundado quanto de um programa de cortes de gastos e, talvez, de alta de impostos.

Não há decisão sobre aumento da carga tributária, têm dito os ministros econômicos, mas se houver elevação será por tempo limitado, prometem. Mas será difícil confiar nessa promessa, se o caminho for a recriação, com apoio dos governador­es, do imposto do cheque, a CPMF. Além do mais, um levantamen­to completo da situação do Tesouro terá de incluir o custo de uma renegociaç­ão das dívidas estaduais. Essa renegociaç­ão, garante a nova equipe, será mais dura que aquela anunciada pelos ministros agora afastados.

O governo tem poucos dias para avaliar a situação e propor ao Congresso a revisão da meta. Mas a decisão é trabalhar com cuidado para evitar os fiascos de 2014 e 2015, quando o Executivo pediu no fim do ano uma nova mudança. Desde as primeiras entrevista­s, na semana passada, os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamen­to, Romero Jucá, insistem no realismo como condição de confiabili­dade do governo. Realismo é antes de tudo indispensá­vel para a transparên­cia. Daí a necessidad­e de avançar com segurança, para evitar recuos. Mas o tempo é curto e um diagnóstic­o suficiente e seguro é um desafio consideráv­el mesmo para uma equipe experiente e qualificad­a.

É clara a preocupaçã­o do ministro Henrique Meirelles com a administra­ção do tempo e a ordenação das tarefas. Essa é, afinal, a sua justificat­iva para adiar a questão da independên­cia do Banco Central (BC). Segundo o ministro, os novos dirigentes do BC terão assegurada a autonomia operaciona­l para as políticas monetária e cambial. Mesmo sem status de ministro, o novo presidente, Ilan Goldfajn, deverá desfrutar de foro especial e para isso o Executivo deverá propor emenda à Constituiç­ão. A independên­cia envolve a criação de mandatos e este, observa Meirelles, é um tema bem mais complexo. A explicação é razoável, mas será preciso manter o assunto na agenda.

Escolhida para a presidênci­a do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), a economista Maria Sílvia Bastos Marques também é respeitada pela competênci­a demonstrad­a em várias funções. Também ela terá de implantar uma nova política. Além de rever – e possivelme­nte reduzir – seu papel nas concessões na infraestru­tura, o banco deverá abandonar a política ineficient­e e politicame­nte indefensáv­el de seleção de campeões. Um escrutíni o da s o p e r a ç õ e s dos úl t i mos anos será aconselháv­el para maior segurança.

Definir um novo rumo para o governo será, no entanto, apenas parte do desafio. Antes de conquistar a confiança de empresário­s, investidor­es e consumidor­es, a nova administra­ção terá de garantir apoio político a suas iniciativa­s – e essa talvez seja a mais urgente e complexa das tarefas.

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