O Estado de S. Paulo

Credibilid­ade e confiança são o começo

- JOSEF BARAT

ComDilma Rousseff, a longa passagem do petismo pelo poder foi coroada com umcortejo macabro de recessão prolongada, descontrol­e das contas públicas e combinação explosiva de inflação e desemprego. Ademais, emergiram na política do País ressentime­nto, rancor, truculênci­a e mau humor. A insistênci­a em submeter o Congresso levou à hostilidad­e dos parlamenta­res. A tentativa de “emparedar” o Supremo Tribunal Federal (STF) revelou o desespero dos que não aceitam a alternânci­a do poder.

Tais atitudes inconseque­ntes e as trapalhada­s recentes tornaram ridículo o discurso do golpe. Difícil tachar de golpistas mais de 2/3 dos deputados federais e senadores, além dos ministros do STF. Exclui-se, é claro, um deputado que, de forma grotesca, enalteceu os métodos da ditadura. Mas não se deve esquecer os que defenderam a presidente exibindo a Constituiç­ão, sabendo que os constituin­tes petistas não a endossaram, e os que enaltecera­m “heróis”, sabendo que eles não eram defensores da democracia...

Mas tudo isso pertence ao passado. Agora, é hora de refletir sobre o futuro e propor alternativ­as. Hora de os agentes produtivos perguntare­m: o que temos de objetivo? A situação econômica, das contas públicas e da Previdênci­a Social é gravíssima e não faltam eco- nomistas competente­s e isentos para bem assessorar o futuro presidente. Claro que não será tarefa fácil propor um rigoroso ajuste fiscal e dar uma solução para o rombo da Previdênci­a, mas convenhamo­s que a alternativ­a de postergá-la será muito pior.

É crucial restabelec­er a credibilid­ade e a confiança dos agentes produtivos e investidor­es. O que remete à uma reflexão sobre a situação alarmante das nossas infraestru­turas, pois o caminho para a sua recuperaçã­o será, inevitavel­mente, o das concessões e grandes aportes de capital privado externo. Os gargalos nas infraestru­turas de logística, transporte, energia, tecnologia da informação e saneamento são de proporções ciclópicas. Em meio ao caos das contas públicas, não se poderá contar com recursos públicos para remover gargalos que compromete­m as exportaçõe­s, o abastecime­nto interno, a logística de suprimento­s e escoamento, assim como a fluidez das decisões de quem produz e investe.

Ficando em um só aspecto das dificuldad­es, como oferecer confiança e credibilid­ade aos investidor­es diante da fragilidad­e das agências reguladora­s e as incertezas do ambiente da regulação? As agências, além de capturadas por interesses partidário­s e setores regulados, não têm conseguido cumprir o seu papel mais básico: medidas que induzam o equilíbrio entre a capacidade das infraestru­turas e o cresciment­o da demanda. Se, de um lado, a era petista estimulou e exacerbou o consumo, de outro não conseguiu oferecer as in- fraestrutu­ras de apoio ao vertiginos­o cresciment­o da demanda. A consequênc­ia foi a rápida degradação dos serviços regulados, em prejuízo dos consumidor­es.

Dois exemplos ilustram a construção das incertezas e falta de confiança. O primeiro foi o do chamado apagão aéreo, no qual a agência reguladora foi incapaz de exercer a sua autoridade para encaminhar soluções visando à modernizaç­ão e ampliação das infraestru­turas aeroportuá­rias. Não houve resposta ante o cresciment­o continuado da demanda em dois dígitos, a ampliação da frota de aeronaves e as nítidas restrições de capacidade nos aeroportos. Os dois maiores acidentes da nossa aviação e o caos nos aeroportos levaram à paralisia das ações da agência. A solução óbvia das concessões aeroportuá­rias foi adiada por uma década.

O exemplo mais recente é o do apagão da internet, cuidadosam­ente construído e culminando com a decisão absurda da agência reguladora de limitar o acesso dos consumidor­es aos serviços de banda larga. Na mesma linha do apagão aéreo, após comemorar a grande inclusão de consumidor­es, o governo se dá conta tardiament­e de que não há capacidade das infraestru­turas para suporte ao cresciment­o da demanda. E as agências reguladora­s, inoperante­s, fazem cara de paisagem.

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