No último dia, isolamento e barreira policial
Dilma Rousseff viveu na manhã de ontem momentos tensos no trajeto entre os Palácios da Alvorada e do Planalto, onde assinaria a notificação de seu afastamento da Presidência. Às 9h40, ela deixou a residência oficial do Alvorada num comboio de cinco carros. Na altura de um viaduto que dava acesso ao Eixo Monumen- tal e à Praça dos Três Poderes, a comitiva foi parada numa barreira policial. Guardas mandaram o grupo seguir por outra via que levaria aos fundos do palácio.
“Aqui ninguém passa”, disse em tom elevado um policial militar do Distrito Federal na barreira, diante dos motoristas do comboio presidencial. Mesmo informado de que a presidente estava num dos carros, o PM não recuou. Houve incredulidade e bate-boca. Um motorista relatou à reportagem que percebeu espanto, irritação e depois tristeza por parte da presidente.
Dentro do carro, parada na barreira, Dilma demonstrou, agora, nervosismo. O com- boio, então, recuou dando voltas pela Vila Planalto até que recebesse autorização. Após, dez minutos, os motoristas do comboio foram avisados de que estavam “autorizados” a passar. Dilma, ainda no exercício da Presidência, chegou ao palácio às 10h20, atrasada para receber a notificação.
O isolamento, uma constante no mandato de cinco anos e quatro meses de Dilma, foi uma marca dos momentos vividos por ela no Alvorada antes da decisão do Senado. Quando Renan Calheiros (PMDB-AL) apresentou o resultado da votação, Dilma, no Alvorada, só contava com a presença da mãe, dona Dilma Jane, de 92 anos, que en- frenta problemas de saúde. Alguns minutos depois, ouviu-se o barulho de fogos de artifício na região do Lago Sul e Lago Norte. A segurança tinha sido informada na véspera que Dilma não daria a habitual pedalada.
Das 5h30 até a votação do impeachment, nenhum carro de autoridade entrou ou saiu do Alvorada. Depois, por volta das 9h, a presidente recebeu a visita de Nilma Lino Gomes, ministra de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Naquele momento, no Palácio do Jaburu, residência oficial de Michel Temer, também não havia movimentação. O vice deu ordens para que a segurança liberasse a entrada de parlamentares às 9h.