O Estado de S. Paulo

Tucanos evitam assumir indicações

Ministério de Temer abriga três filiados ao PSDB (Serra, Bruno Araújo e Alexandre de Moares), mas partido não os reconhece parte da sua cota

- Pedro Venceslau

Depois de um intenso processo de debate interno que envolveu todas as instâncias partidária­s, o PSDB emplacou três ministros na gestão do presidente interino Michel Temer (PMDB), mas afirma que os escolhidos não fazem parte da “cota” da legenda na Esplanada.

Essa foi a solução encontrada para contemplar os governador­es tucanos, que se manifestar­am contra a ocupação de cargos, e ao mesmo preservar o partido de eventuais desgastes na administra­ção.

O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, disse que considera “altamente qualificad­os” os nomes do partido que ocuparão ministério­s na gestão Michel Temer (PMDB): o deputado federal Bruno Araújo (PE), em Cidades, o senador José Serra (SP) no Itamaraty e o advogado Alexandre de Moraes (SP) na Justiça. Aécio afir- ma, porém, que a sigla não foi responsáve­l pelas indicações.

“Os nomes são altamente qualificad­os e desejo sucesso nas funções que irão exercer, porém o apoio do PSDB ao novo governo, como eu já disse e reitero, por decisão da direção executiva, independer­á dos nomes convidados”, disse o senador ao Estado. “Esperamos e confiamos que Temer possa colocar em curso os pontos centrais que o PSDB apresentou a ele”, concluiu.

“O PSDB não tem cota. Não pedimos cargos, só queremos que os princípios que apresent a mos s e j a m s e g u i d o s . O apoio ( a Temer) será incondicio­nal”, complement­a o deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do partido.

Ele classifico­u o trio de ministros tucanos como “altamente qualificad­os”.

Sugestão. Apesar do tom de desprendim­ento do discurso oficial tucano, deputados da legenda dizem, reservadam­ente, que Araujo foi uma indicação de Aécio que contou com o apoio da bancada na Câmara. O senador teria, ainda, tentado emplacar o senador Tasso Jereissati (CE) no Desenvolvi­mento, o que contemplar­ia a bancada no Senado. Já Serra e Moraes seriam de fato escolhas pessoais de Temer.

Aliados do vice-presidente dizem que Aécio apresentou suas sugestões em uma reunião com Temer no Palácio do Jaburu, o que o senador nega. O vazamento dessa versão irritou o presi- dente do PSDB, que reforçou o discurso de apoio incondicio­nal, mas independen­te.

Idas e vindas. Logo após a votação da admissibil­idade do processo de impeachmen­t na Câmara, a primeira reação do PSDB foi rejeitar com veemência a possibilid­ade ocupar cargos em eventual novo governo.

Uma ala do partido chegou a defender que os filiados que quisessem ocupar cargos oferecidos por Temer teriam que se licenciar da legenda.

A ofensiva foi uma reação a aproximaçã­o direta de Serra com Temer. Os dois são amigos e mantêm uma boa interlocuç­ão desde os tempos que eram estudantes universitá­rios, nos anos 1960. Nas conversas seguintes entre o PSDB e Temer, os tucanos passaram a exigir do vice-presidente que o diálogo ocorresse em caráter “institucio­nal”.

Em um encontro com o vice, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PA) foi direto ao ponto. “Não queremos que o PMDB faça com o PSDB, o que o PT fez com o PMDB”.

Em outra frente, os governador­es tucanos passaram a defender o apoio sem cargos, o que ampliou a pressão sobre o senador Aécio Neves.

‘Participaç­ão convidada’. Terminada a fase de articulaçõ­es, os governador­es aceitaram a solução de “participaç­ão convidada”. No caso de Alckmin, seus aliados insistem que Alexandre Moraes não foi uma indicação do governador. Segundo aliados do governador, ele nem sequer foi consultado antes da primeira sondagem de Temer ao então se- cretário de Segurança, em abril.

Dos três tucanos com vaga na Esplanada dos Ministério­s, Bruno Araújo, das Cidades, é quem terá mais “tinta na caneta”.

Sua pasta, as Cidades, que antes era comandada pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), é responsáve­l, por exemplo, por políticas de desenvolvi­mento urbano, ações setoriais de habitação, saneamento ambiental, transporte urbano e trânsito e participaç­ão na formulação das diretrizes gerais para conservaçã­o dos sistemas urbanos de água, entre outras atribuiçõe­s.

 ?? RICARDO BOTELHO/BRAZIL PHOTO PRESS ?? No gabinete. Tucano Bruno Araújo é empossado como ministro das Cidades pelo presidente interino no Palácio do Planalto
RICARDO BOTELHO/BRAZIL PHOTO PRESS No gabinete. Tucano Bruno Araújo é empossado como ministro das Cidades pelo presidente interino no Palácio do Planalto
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