O Estado de S. Paulo

Embaixada amplia controle de vistos em Angola

Medida foi adotada após Itamaraty notar fluxo maior de imigrantes para SP; 600 mulheres e grávidas buscaram abrigo só no 1º trimestre

- Juliana Diógenes

O Itamaraty intensific­ou o controle da análise de vistos de turista na embaixada brasileira em Luanda, capital de Angola. Desde 1.º de janeiro, 242 vistos foram denegados (rejeitados e colocados em uma “lista negra”), uma média de mais de dois por dia. Como o mostrou ontem, cerca de 600 mulheres com os filhos e até grávidas vieram para São Paulo só no primeiro trimestre do ano.

A denegação acontece quando os agentes consulares suspeitam que os estrangeir­os estejam solicitand­o visto de turista com outra finalidade – no caso dos angolanos, para permanecer no Brasil. Com o visto denegado, o cidadão fica impedido de entrar no País por tempo indetermin­ado e entra para uma lista virtual da Polícia Federal, a que todos os consulados e embaixadas têm acesso.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a representa­ção em Luanda não compilou dados de vistos denegados nos anos anteriores e passou a fazer o registro após um alerta do governo federal para que medidas mais conservado­ras fossem tomadas. Segundo o departamen­to, embora não haja registro de “aumento expressivo” no número de vistos nos últimos três anos, a Embaixada do Brasil em Luanda passou a adotar, nos últimos três meses, medidas adicionais para aprofundar a análise das solicitaçõ­es de visto.

A maioria das mulheres tem entrado no País com visto de turista, mas pede refúgio logo ao chegar aos aeroportos do Rio (Galeão) e de São Paulo (Guarulhos). O Estado mostrou ontem que as africanas alegam perseguiçã­o política e religiosa. Em território brasileiro, o refúgio só é concedido a estrangeir­os sob perseguiçã­o de raça, religião, nacionalid­ade, grupo social ou opiniões políticas – e aos que estão sujeitos à violação de direitos humanos.

Outra hipótese levantada por especialis­tas é de que essas famílias estejam fugindo da crise econômica em Angola, com falta de dólar no mercado em função da baixa do petróleo, cenário que tem potenciali­zado a vulnerabil­idade dos pobres.

Queda. No fim de 2015, o Ministério da Justiça avisou ao Itamaraty que notou “aumento do número de cidadãos angolanos que passaram a buscar os órgãos de assistênci­a social da cidade de São Paulo, sobretudo em relação a mulheres com filhos menores de idade e/ou grávidas”. Em 2014, foram concedidos 22.372 vistos a angolanos na Embaixada do Brasil em Luanda e, no ano passado, 21.656. Desde o início de 2016 até o dia 8 deste mês, receberam visto 3.886 angolanos.

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ?? Brincadeir­a no abrigo. Famílias alegam perseguiçã­o política e religiosa para pedir refúgio
WERTHER SANTANA/ESTADÃO Brincadeir­a no abrigo. Famílias alegam perseguiçã­o política e religiosa para pedir refúgio
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil