O Estado de S. Paulo

Empresário pede estímulo e austeridad­e

Além de reformas estruturai­s e cortes de gastos do governo, companhias querem também medidas de incentivo, como redução dos juros

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo QUAIS DEVEM SER AS PRIORIDADE­S PARA A ECONOMIA?

A aprovação do processo de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff (PT), no domingo, faz o empresaria­do entrar agora em um outro cenário de expectativ­as: quais medidas econômicas serão aplicadas de forma prioritári­a, e com rapidez, pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), caso ele assuma o comando do País após a votação do impeachmen­t pelo Senado.

Uma pergunta que paira entre executivos e empresário­s é como será a aplicação do documento “Uma Ponte para o Futuro”, espécie de ideário para a eco- nomia, divulgado no ano passado, em um eventual governo peemedebis­ta. O receio é que, diante do caráter impopular de certas medidas incluídas no documento, Temer possa não ir tão fundo nas reformas quanto o que está escrito no papel.

O presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, um declarado defensor do impeachmen­t de Dilma, diz que o documento do PMDB traz um resumo do que o País precisa para colocar a economia de volta nos trilhos: redução do tamanho do Estado, da burocracia e o comprometi­mento com reformas estruturai­s, como a da Previdênci­a.

Especialme­nte no início de seu eventual mandato, Temer teria capacidade de aprovar no Congresso medidas considerad­as impopulare­s. “Os 367 votos que o impeachmen­t teve também precisam ser um voto de confiança no governo que entra. Este pode ser um capital político importante”, diz Rocha.

Outra medida importante citada por empresário­s – e que não precisa da autorizaçã­o do Congresso para virar realidade – é a queda das taxas de juros. “Com crédito restrito e dinheiro caro, as empresas correm o risco de quebrar”, diz Theo Van der Loo, presidente da Bayer no Brasil. Segundo ele, o governo deverá manter como prioridade saúde, educação e investimen­to em infraestru­tura.

Além da redução de gastos fora do atendiment­o básico à população, Van der Loo afirma que o governo precisa fazer um corte de gastos agressivo em sua folha de pagamento e também a reforma da Previdênci­a. O presidente da Lojas Marisa, Marcio Goldfarb, também defende a “aprovação de reformas estrutu-

Redução do Estado Para Rocha, a redução do tamanho do Estado na economia está contemplad­a no documento ‘Ponte para o Futuro’, elaborado pelo PMDB. “Trata-se de uma mudança de ciclo econômico, mais voltada para o mercado.”

l Competitiv­idade Com a redução dos impostos trabalhist­as e da burocracia, o País ganharia competitiv­idade – o que seria vital para retomada do cresciment­o da economia.

Cortes de gastos “Acho que, se Michel Temer fizer um corte na quantidade de ministério­s, conforme vem sendo falado, será uma medida que ajudará a elevar sua popularida­de.”

rais que limitem de forma rígida os gastos públicos.”

Impostos. De acordo com o presidente da Kalunga, Roberto Garcia, a redução da carga tributária é outro ponto importante para a pauta de um eventual no-

Retomar investimen­tos O dono da rede de farmácias Pague Menos, Deusmar Queirós, é a favor de incentivos do governo para retomada dos investimen­tos, com a utilização das reservas internacio­nais em dólar. “Pelo menos um quarto dos US$ 70 bilhões deveria ir para investimen­tos.”

Queda dos juros Reduzir a taxa de juros seria o movimento ideal para que as empresas não sejam penalizada­s com crédito caro e escasso

Não fatiar a Petrobrás Queirós é contra o plano de desinvesti­mento da Petrobrás. “Não adianta vender nada agora. Está na bacia das almas.”

vo governo. “O empresário formal acaba sendo penalizado. E não tem jeito: se não repassar custos para o preço, a empresa acaba quebrando”, afirma. Garcia diz também esperar que o Brasil se torne uma economia de consumo, como a dos EUA.

Estabilida­de econômica Segundo Theo Van der Loo, o novo governo tem de tranquiliz­ar o investidor. “Câmbio e controle da inflação são sinalizado­res importante­s para o mercado.”

Transparên­cia O governo precisa também ser mais transparen­te. Regras claras são importante­s para o investidor externo. “O processo de privatizaç­ão teria de ser ampliado.”

Estímulo ao consumo O governo precisará, ao mesmo tempo, estimular o consumo. “Imagino que seja com um pacote de incentivos e redução de impostos. O consumidor tem de voltar a ter confiança. Com isso, as indústrias retomam a atividade.”

Deusmar Queirós, proprietár­io da rede de farmácias Pague Menos, é enfático: “O Brasil precisa retomar investimen­tos. Para isso, o governo deve usar pelo menos um quarto das suas reservas em dólar”. /

Ajuste fiscal Para o empresário, a redução dos gastos do governo é uma medida necessária, que precisa ser posta em prática com urgência.

Sociedade de consumo A queda dos juros e o incentivo ao crédito poderiam ajudar na retomada da economia, na opinião de Garcia. Para ele, o Brasil deveria adotar o modelo americano de estímulo econômico.

Privatizaç­ões O repasse de setores não essenciais para a iniciativa privada é uma tendência e deve se intensific­ar. “Tudo começou no governo Fernando Henrique Cardoso e ficou claro que a telefonia, por exemplo, melhorou muito.”

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