Empresário pede estímulo e austeridade
Além de reformas estruturais e cortes de gastos do governo, companhias querem também medidas de incentivo, como redução dos juros
A aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), no domingo, faz o empresariado entrar agora em um outro cenário de expectativas: quais medidas econômicas serão aplicadas de forma prioritária, e com rapidez, pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), caso ele assuma o comando do País após a votação do impeachment pelo Senado.
Uma pergunta que paira entre executivos e empresários é como será a aplicação do documento “Uma Ponte para o Futuro”, espécie de ideário para a eco- nomia, divulgado no ano passado, em um eventual governo peemedebista. O receio é que, diante do caráter impopular de certas medidas incluídas no documento, Temer possa não ir tão fundo nas reformas quanto o que está escrito no papel.
O presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, um declarado defensor do impeachment de Dilma, diz que o documento do PMDB traz um resumo do que o País precisa para colocar a economia de volta nos trilhos: redução do tamanho do Estado, da burocracia e o comprometimento com reformas estruturais, como a da Previdência.
Especialmente no início de seu eventual mandato, Temer teria capacidade de aprovar no Congresso medidas consideradas impopulares. “Os 367 votos que o impeachment teve também precisam ser um voto de confiança no governo que entra. Este pode ser um capital político importante”, diz Rocha.
Outra medida importante citada por empresários – e que não precisa da autorização do Congresso para virar realidade – é a queda das taxas de juros. “Com crédito restrito e dinheiro caro, as empresas correm o risco de quebrar”, diz Theo Van der Loo, presidente da Bayer no Brasil. Segundo ele, o governo deverá manter como prioridade saúde, educação e investimento em infraestrutura.
Além da redução de gastos fora do atendimento básico à população, Van der Loo afirma que o governo precisa fazer um corte de gastos agressivo em sua folha de pagamento e também a reforma da Previdência. O presidente da Lojas Marisa, Marcio Goldfarb, também defende a “aprovação de reformas estrutu-
Redução do Estado Para Rocha, a redução do tamanho do Estado na economia está contemplada no documento ‘Ponte para o Futuro’, elaborado pelo PMDB. “Trata-se de uma mudança de ciclo econômico, mais voltada para o mercado.”
l Competitividade Com a redução dos impostos trabalhistas e da burocracia, o País ganharia competitividade – o que seria vital para retomada do crescimento da economia.
Cortes de gastos “Acho que, se Michel Temer fizer um corte na quantidade de ministérios, conforme vem sendo falado, será uma medida que ajudará a elevar sua popularidade.”
rais que limitem de forma rígida os gastos públicos.”
Impostos. De acordo com o presidente da Kalunga, Roberto Garcia, a redução da carga tributária é outro ponto importante para a pauta de um eventual no-
Retomar investimentos O dono da rede de farmácias Pague Menos, Deusmar Queirós, é a favor de incentivos do governo para retomada dos investimentos, com a utilização das reservas internacionais em dólar. “Pelo menos um quarto dos US$ 70 bilhões deveria ir para investimentos.”
Queda dos juros Reduzir a taxa de juros seria o movimento ideal para que as empresas não sejam penalizadas com crédito caro e escasso
Não fatiar a Petrobrás Queirós é contra o plano de desinvestimento da Petrobrás. “Não adianta vender nada agora. Está na bacia das almas.”
vo governo. “O empresário formal acaba sendo penalizado. E não tem jeito: se não repassar custos para o preço, a empresa acaba quebrando”, afirma. Garcia diz também esperar que o Brasil se torne uma economia de consumo, como a dos EUA.
Estabilidade econômica Segundo Theo Van der Loo, o novo governo tem de tranquilizar o investidor. “Câmbio e controle da inflação são sinalizadores importantes para o mercado.”
Transparência O governo precisa também ser mais transparente. Regras claras são importantes para o investidor externo. “O processo de privatização teria de ser ampliado.”
Estímulo ao consumo O governo precisará, ao mesmo tempo, estimular o consumo. “Imagino que seja com um pacote de incentivos e redução de impostos. O consumidor tem de voltar a ter confiança. Com isso, as indústrias retomam a atividade.”
Deusmar Queirós, proprietário da rede de farmácias Pague Menos, é enfático: “O Brasil precisa retomar investimentos. Para isso, o governo deve usar pelo menos um quarto das suas reservas em dólar”. /
Ajuste fiscal Para o empresário, a redução dos gastos do governo é uma medida necessária, que precisa ser posta em prática com urgência.
Sociedade de consumo A queda dos juros e o incentivo ao crédito poderiam ajudar na retomada da economia, na opinião de Garcia. Para ele, o Brasil deveria adotar o modelo americano de estímulo econômico.
Privatizações O repasse de setores não essenciais para a iniciativa privada é uma tendência e deve se intensificar. “Tudo começou no governo Fernando Henrique Cardoso e ficou claro que a telefonia, por exemplo, melhorou muito.”