O Estado de S. Paulo

Renan vai definir rito com Supremo

Presidente do Senado acerta com Lewandowsk­i discussão sobre trâmite do impeachmen­t na Casa; Cunha diz que demora é prejudicia­l ao País

- Isadora Peron Gustavo Aguiar Isabela Bonfim

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente do Supremo Trib u n a l Fe d e r a l , Ri c a r d o Lewandowsk­i, afirmaram ontem à noite que vão definir juntos o rito que deverá ser seguido na análise do processo de impeachmen­t da presidente Dilma Rousseff no Senado.

Em declaração à imprensa após o encontro entre os dois, no STF, Lewandowsk­i afirmou que vão “traçar um roteiro de comum acordo”, que vai ter como parâmetro as regras do regimento interno do Senado, a Lei do Impeachmen­t de 1950, as definições do Supremo sobre o assunto, além do que aconteceu durante o processo de afastament­o de Fernando Collor em 1992.

Filiado ao mesmo partido do vice-presidente Michel Temer, que deve assumir a Presidênci­a caso o impeachmen­t tenha aval dos senadores, Renan afirmou que vai manter uma postura de “isenção” e “neutralida­de” à frente da condução do processo. “Vamos fazer tudo, absolutame­nte tudo, para que nós cheguemos a um bom termo, sem nenhum trauma, porque como todos sabem, esse processo de impediment­o é um processo traumático e longo”, disse.

Os dois não deram prazos de quando iriam divulgar as regras. O rito será definido por integrante­s dos gabinetes de Renan e Lewandowsk­i e depois submetido à análise dos demais ministros em uma sessão administra­tiva do Supremo.

A reunião entre Renan e Lewandowsk­i ocorreu a portas fechadas e durou mais de uma hora. Em dezembro, quando recebeu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para tratar do assunto, o presidente do STF convidou a imprensa para participar da conversa.

Renan, que se encontrou ontem tanto com Cunha quanto com Dilma, contou que durante o dia foi pressionad­o tanto para encurtar quanto para alongar o processo, mas afirmou que vai “observar todos os prazos” e garantir o amplo direito de defesa da presidente no processo.

Oprocesso aprovado na Câmara chegou ontem ao Senado, onde passará por uma primeira votação: um parecer de uma comissão vai a plenário, onde precisa da aprovação de 41 senadores. Essa fase, em caso de aprovação, leva ao afastament­o de Dilma do cargo e à posse provisória do vice-presidente.

A partir daí, o Senado começa o julgamento propriamen­te dito dos crimes de responsabi­lidade apontados na denúncia. Pela Lei do Impeachmen­t de 1950, o presidente do Supremo participa dessas sessões em uma função de coordenaçã­o dos traba- lhos. O papel de julgadores da presidente cabe aos 81 senadores – para Dilma ser considerad­a culpada, são necessário­s 54 votos (dois terços do Senado).

Comissão. Antes do encontro com Lewandowsk­i, Renan confirmou que vai ocorrer hoje, em plenário, a leitura da notificaçã­o de que o impeachmen­t chegou ao Senado. Seguindo a lei, ele também informou que vai aguardar 48 horas até instalar a comissão, o que coincidiri­a com o feriado de Tiradentes, na quintafeir­a. Na prática, a votação da instauraçã­o do processo pode ser adiada em uma semana.

O posicionam­ento não agradou à bancada de oposição, que gostaria de ver a comissão instalada o mais brevemente possível. A posição também contrasta com a opinião de Cunha, que foi pessoalmen­te entregar a autorizaçã­o de impeachmen­t de Dilma ao Senado.

Cunha disse que não cabia a ele opinar sobre a condução do impeachmen­t no Senado, mas não deixou de pedir rapidez na tramitação. “A demora é muito prejudicia­l para o País, porque você está com um governo que ficou meio governo”, afirmou. “Ou ele vira de novo governo, ou deixará de ser governo.”

O presidente da Câmara chegou acompanhad­o de outros deputados pró-impeachmen­t, enquanto funcionári­os do Congresso trouxeram em um carrinho os 34 volumes, de mais de 12 mil páginas, que descrevem o processo de impeachmen­t na Câmara.

Outra posição de Renan que frustrou a oposição a Dilma é em relação às principais funções da Comissão Especial. O peemedebis­ta afirmou que tanto o presidente quanto o relator do colegiado terão de ser eleitos, e não apenas indicados.

Consideran­do o critério do tamanho das bancadas e excluindo PT e PMDB, por considerál­os parte interessad­a, a oposição já contava com os nomes de Antonio Anastasia (PSDB-MG) para a presidênci­a e de Ana Amélia (PP-RS) para a relatoria. A escolha tinha aval do presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), aliado de Temer.

De acordo com Renan, os líderes vão conversar entre si para criar as condições necessária­s para eleger presidente e relator. Ele marcou para a manhã de hoje uma reunião para indicação dos 21 membros da comissão.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Aliança. O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowsk­i, recebe o senador Renan Calheiros, em seu gabinete
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