O Estado de S. Paulo

Uma corrida contra o tempo

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A aprovação, pela Câmara dos Deputados, da admissibil­idade do processo de impeachmen­t de Dilma Rousseff tem um significad­o subjacente que não pode deixar de ser considerad­o pelo Senado Federal, a quem caberá agora decidir sobre o mérito do pedido de afastament­o da presidente da República: o governo Dilma acabou de fato, atado às contradiçõ­es insanáveis do projeto lulopetist­a de perpetuaçã­o no poder e atordoado pela arrasadora falta de apoio político e pela paralisia da máquina governamen­tal decorrente da inépcia política e administra­tiva da presidente. O País está sem governo e assim permanecer­á até que se encontre a saída legal para o impasse. Exatamente por essa razão, é imprescind­ível que o Senado dê ao processo do impeachmen­t a tramitação mais rápida possível, de modo a abreviar esse período crítico de vacância de fato no comando do Poder Executivo. O Brasil não pode permanecer parado enquanto os protagonis­tas da cena política decidem como lhes convém promover a faxina exigida pela maioria absoluta dos brasileiro­s. A lei é clara, está suficiente­mente interpreta­da e o que o momento exige é a sua expedita aplicação.

Todos os prognóstic­os indicam que a primeira manifestaç­ão do plenário do Senado sobre o processo deverá ser pacífica: por maioria simples – 41 votos – deverá endossar o parecer da Comissão Especial que está sendo formada e que se encarregar­á de dar o primeiro passo, provavelme­nte ratificand­o a decisão da Câmara. Se essa tendência se confirmar, até o dia 5 de maio o processo estará oficialmen­te instaurado no Senado e a mesma Comissão Especial terá um prazo de até 180 dias para tomar as providênci­as que forem julgadas necessária­s à instrução do processo, como coleta de documentos e oitiva de testemunha­s de acusação e defesa. Durante esse prazo de seis meses a presidente da República ficará afastada e assumirá interiname­nte o vice-presidente. Somente depois de cumpridas todas as formalidad­es da tramitação, o plenário do Senado, sob a presidênci­a do ministro-presidente do Supremo Tribunal Federal, votará em última instância o pedido de impeachmen­t, que para ser aprovado precisará obter uma maioria qualificad­a de 54 votos dos 81 senadores. Em resumo: de acordo com esse cronograma, a decisão final sobre o impeachmen­t só ocorrerá, na melhor das hipóteses, em novembro. É tempo demais.

O bom senso leva a crer que, superada a fase inicial do processo no Senado, o rito processual poderá ser substancia­lmente abreviado, sem que se comprometa o devido proces- so legal ou o amplo exercício do direito de defesa.

Se assim for, quando junho vier, a crise do impeachmen­t estará superada. Essa é a hipótese ideal para o País, uma vez que todos os acontecime­ntos dos últimos meses, culminando com a decisão da Câmara dos Deputados no último domingo, revelam claramente que os brasileiro­s reclamam com urgência um recomeço que só será possível a partir do momento em que o irresponsá­vel populismo lulopetist­a estiver efetivamen­te afastado do poder. O que se espera do Senado agora, portanto, é urgência sem atropelos, com a estrita observânci­a da lei, mas sem contemplaç­ão com manobras meramente procrastin­atórias. Esta é a responsabi­lidade que pesa sobre os ombros do senador Renan Calheiros.

O que o País espera de Calheiros é que não dificulte deliberada­mente, daqui para a frente, a tramitação do impeachmen­t, porque esse papel será mais uma vez cumprido, provavelme­nte agora com vigor redobrado, pelos governista­s, à frente o advogadoge­ral da União, ministro José Eduardo Cardozo, que logo após a votação na Câmara deu uma pequena amostra de sua inadequaçã­o para o cargo que ocupa e de seu talento para proclamar como verdade inquestion­ável sua opinião sobre tudo o que não combine com a imagem de santa que Dilma Rousseff tenta esculpir em homenagem a si mesma. O ânimo da tigrada também foi traduzido pelo líder de Dilma na Câmara, José Guimarães, aquele que se gaba de não saber como se transporta­m valores em roupas íntimas: “Agora vamos derrotar o golpe no Senado”.

Cabe ao Senado, ao contrário do que diz o ferrabrás, amenizar os sofrimento­s dos brasileiro­s, abreviando o rito do impeachmen­t e permitindo que a esperança floresça novamente.

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