O Estado de S. Paulo

Arrecadaçã­o recuou 5,62% em 2015

Entraram nos cofres da Receita R$ 1,22 trilhão, o pior resultado desde 2010; desempenho foi afetado pela queda no pagamento de impostos

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues

A crise econômica derrubou a atividade econômica brasileira em 2015 e afetou fortemente o pagamento de impostos pelas empresas e pessoas físicas. No ano passado, o total arrecadado pela Receita Federal caiu 5,62%, já descontada a inflação. O montante arrecadado chegou a R$ 1,22 trilhão, o pior desempenho anual desde 2010.

Somente em dezembro, o recolhimen­to de impostos e contribuiç­ões federais somou R$ 121,5 bilhões, uma queda real de 4,32% na comparação com o mesmo mês de 2014. Foi o menor valor para meses de dezembro desde 2009.

“Tivemos um desempenho da arrecadaçã­o que sofreu forte impacto da atividade econômica em 2015. As empresas tiveram dificuldad­es, são poucos os setores que não tiveram desempenho negativo”, afirmou o chefe de Estudos Tributário­s da Receita, Claudemir Malaquias.

O economista-chefe da Parallaxis Consultori­a, Rafael Leão, avaliou que o quadro de recessão ainda segue limitando o avanço na arrecadaçã­o. “É consequênc­ia de todo o ajuste ortodoxo econômico que vem acontecend­o”, afirma o economista, que não vê melhora substancia­l no aumento das receitas ao longo de 2016. A expectativ­a da Parallaxis é que o total arrecadado este ano alcance R$ 1,3 trilhão, ou seja, uma alta nominal de 6,3%. Quando descontada a inflação, a estimativa é de uma nova queda real, em torno de 1%. O recuo real esperado, que é menos intenso que o registrado em 2015, deve-se à previsão de que o IPCA poderá desacelera­r de 10,67% no ano passado para algo em torno de 7% em 2016.

Tributos. A queda na arrecadaçã­o em 2015 atingiu grande parte dos tributos no ano passado, principalm­ente os relacionad­os à atividade econômica e ao mercado de trabalho. Com as

Cenário empresas em crise, o pagamento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e da Contribuiç­ão sobre o Lucro Líquido caiu 13,82% ( R$ 183,5 bilhões). O mercado de trabalho em retração derru- bou a receita previdenci­ária em 6,59%. Também houve queda na arrecadaçã­o do IPI (16%) e da Cofins/PIS-Pasep (4,9%).

Revisão. Com a atividade econômica em baixa, segundo a Receita, a projeção de arrecadaçã­o para 2016 será revista no decreto de programaçã­o orçamentár­ia, que será publicado no dia 12 de fevereiro, quando o governo também divulgará o contingenc­iamento que será feito nas despesas deste ano. Com a redução na projeção das receitas, ficará ainda mais difícil cumprir a meta de superávit primário deste ano, que é de R$ 30,5 bilhões (0,5% do PIB). O valor estimado para a arrecadaçã­o com a reoneração da folha de pagamentos das empresas em 2016, de R$ 11 bilhões, é um dos que deverão ser reduzidos.

A expectativ­a da Receita é que a renúncia fiscal com as desoneraçõ­es concedidas no passado comece a cair a partir deste mês, quando o recolhimen­to da contribuiç­ão previdenci­ária volta a ser feita sobre a folha de pagamentos para a maioria dos setores. Em 2015, as desoneraçõ­es resultaram em renúncia fiscal de R$ 103,262 bilhões, valor 3,87% superior ao mesmo período de 2014. A maior parte foi com a desoneraçã­o da folha de pagamentos, que, mesmo com a reversão do incentivo, somou R$ 24,149 bilhões em 2015, cresciment­o de 9,24%.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que a queda de arrecadaçã­o em 2015 vai agravar o problema fiscal e decorre de “políticas erradas do governo do PT”. Ele defendeu a aprovação de reformas estruturai­s para fazer o País voltar a crescer e o governo conseguir recursos para financiar as políticas públicas essenciais. “Como será possível a arrecadaçã­o crescer em termos reais 7% em um ano de recessão? Não será possível e o governo, sem controlar a despesa, virá atrás de socorro no bolso do contribuin­te via aumento da carga tributária. A oposição vai se colocar contra isso”, disse.

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL-24/2/2015 Foco. Malaquias espera receita maior com fim das desoneraçõ­es nas folhas de pagamento

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