Delatores apontam desvios na compra de Pasadena
Nova fase da Lava Jato apura propina na aquisição da refinaria pela Petrobrás; valor, segundo novo delator, poderia chegar a US$ 100 mi
A Polícia Federal deflagrou ontem a 20.ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Corrosão. A nova etapa investiga a compra pela Petrobrás da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, a construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e contratos de aluguel de navios-sonda.
A operação teve como base os depoimentos de um novo delator, o engenheiro Agosthilde Mônaco, considerado homem de confiança do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró.
Mônaco declarou à força-tarefa que Cerveró lhe disse que a compra de Pasadena poderia “honrar compromissos políticos” do então presidente da estatal, José Sergio Gabrielli. “De acordo com as informações fornecidas por Nestor Cerveró, este negócio atenderia ao interesse de Gabrielli em realizar o Revamp (Renovação do Parque de Refino) e ao interesse da área internacional em adquirir a refinaria”, afirmou o delator.
Mônaco relatou ainda que Cerveró afirmou que, antes mesmo do fechamento do contrato de compra de Pasadena, “o presidente Gabrielli já havia indicado a Construtora Norberto Odebrecht para realizar o Revamp para 200.000 barris/dia”.
“O diretor Nestor, em tom de desabafo, disse ao depoente que o presidente Gabrielli estava muito interessado em resolver o assunto e dar a obra do Revamp para a Odebrecht.”
Ele contou que no fim de 2004 recebeu determinação do então diretor de Internacional para localizar refinarias de petróleo que estivessem à venda nos Estados Unidos para compra pela Petrobrás. Segundo ele, na época era parte do plano estratégico da companhia o escoamento da produção excedente de petróleo ao exterior.
Propina. A propina na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, poderia chegar à cifra de US$ 100 milhões, segundo Mônaco. Principal foco da nova operação, a compra da refinaria foi iniciada em 2006 e concluída em 2012, pelo preço final US$ 1,2 bilhão.
O novo delator disse ao Ministério Público Federal que Alberto Feilhaber, um ex-executivo da Petrobrás que havia se tornado representante da trading Astra Oil, disse ao engenheiro Carlos Roberto Barbosa – funcionário da estatal cedido à Petrobras America Inc – que estaria disposto a pagar entre US$ 80 milhões e até US$ 100 milhões “para resolver definitivamente” litígio em arbitragem relativa à Pasadena – a demanda se arrastava havia dois anos.
A despeito da afirmação do novo delator, conforme a forçatarefa, o negócio envolveu uma propina de pelo menos US$ 15 milhões e teve como figura central das negociações o ex-gerente de Inteligência de Mercado da Diretoria de Internacional da Petrobrás Rafael Mauro Comino, alvo da ação de ontem.
Segundo a Procuradoria da República no Paraná, além de Mônaco e Comino, são investigados Luís Carlos Moreira da Silva (ex-gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Diretoria de Internacional da Petrobrás) e Cezar de Souza Tavares, Aurélio Telles e Carlos Roberto Barbosa (ex-empregados da Petrobrás). Os procuradores afirmam “haver provas de terem recebido propinas” na compra da refinaria no Texas.
Foram cumpridos dois mandados de prisão temporária, onze de busca e apreensão e cinco de condução coercitiva – quando o investigado é levado para depor e liberado – no Rio de Janeiro, em Rio Bonito (RJ), em Petrópolis (RJ), em Niterói (RJ) e em Salvador (BA). O exgerente executivo da área internacional da Petrobrás Roberto Gonçalves foi preso na manhã de ontem no Rio.
Nelson Ribeiro Martins, operador de câmbio e apontado como operador do esquema, também foi preso no Rio.
Os investigados são suspeitos da prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, dentre outros.
Segundo a força-tarefa da Lava Jato, as revelações do operador de propinas do esquema e também delator Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, foram decisivas para as descobertas da Lava Jato em Pasadena. Ele apontou o ex-gerente de Internacional Luis Moreira e Cerveró como responsáveis pelo “acerto” envolvendo a compra da refinaria.
Em julho do ano passado, relatório aprovado no Tribunal de Contas da União (TCU) calculou em US$ 792,3 milhões o prejuízo decorrente da compra da refinaria nos Estados Unidos pela Petrobrás.
Anulação. Para o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato, a comprovação de corrupção na aquisição da re-
O negócio finaria no Texas pode até anular o negócio. “Nós recebemos o caso Pasadena do Rio de Janeiro e pudemos aprofundar as investigações. Nós já temos no- mes de funcionários e colaborações ( premiadas) que indicam o recebimento de propina. Quem sabe com essas provas consigamos talvez anular a compra e, quem sabe, ressarcir o patrimônio público brasileiro”, afirmou o procurador da República. “Foi um péssimo negócio com muitos beneficiários.”