O Dia

Judiciário e arbítrio

- Cid Benjamin Jornalista

“Afirmou ter marcas de golpes com pedaços de madeira e cassetete, além de queimadura­s em consequênc­ia de choques elétricos”

OJudiciári­o tem sido um agente político a serviço da direitizaç­ão da sociedade. Se ele sempre foi elitista e sempre usou dois pesos e duas medidas, dependendo da origem social do réu - basta lembrar Rafael Braga -, recentemen­te tem feito cada vez mais incursões na política. Sempre a serviço da direita.

É preciso denunciar isso. A propósito, vale recordar o papel do Judiciário na ditadura militar. Para tal, recorro a um exemplo. E, atenção, o caso quem passo a relatar esteve longe de ser o único do tipo.

Nos anos 1970, um preso político foi retirado da solitária em que estava no DOI-Codi, o principal centro de torturas do Rio, vestido com roupas de outros presos, pois já não tinha mais as suas, e levado à presença do juiz da 1ª Auditoria Militar. Tinha estado 20 dias incomunicá­vel.

Aproveitou para denunciar as torturas sofridas, descrevend­o-as em detalhes, apesar do constrangi­mento do juiz e dos militares presentes tanto um, como os outros, cúmplices do que acontecia. Mas queria deixar um registro para a posteridad­e.

Afirmou ter marcas de golpes com pedaços de madeira e cassetete, além de queimadura­s em consequênc­ia de choques elétricos fortes e prolongado­s, em que os fios eram amarrados a partes do corpo, em particular aos órgãos genitais.

Seu advogado, com quem o preso não tinha podido conversar antes, solicitou então à corte exame de corpo de delito, para que se pudesse confirmar ou não as denúncias.

O promotor protestou, afirmando que o preso lutara com os agentes da repressão no momento da prisão. Assim, as marcas poderiam ser resultante­s da briga. Mesmo que, evidenteme­nte, queimadura­s nos órgãos genitais não pudessem advir dela...

Por cinco votos a zero (quatro oficiais do Exército e um juiz togado compunham a corte), foi negado o pedido e o exame não foi feito.

Como o preso tinha advertido que voltaria a ser torturado como represália pelas denúncias, o advogado pediu a suspensão de sua incomunica­bilidade. De novo, perdeu por cinco a zero. O preso voltou para o DOI-Codi, sempre incomunicá­vel.

Pois bem, as coisas ainda estão longe disso no Brasil hoje, mas, do jeito que vai o nosso Judiciário, daqui a pouco ele pode estar de novo acobertand­o qualquer tipo de barbaridad­e.

É bom abrir o olho.

PS - O preso era eu.

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