O Dia

Diga não ao leão e à hiena

- Ruy Chaves

Aprendi com o mestre Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperanços­o”. Então, como não lembrar de Lippy, o leão, e Hardy Har Har, a hiena, personagen­s de Hanna-Barbera, alegria da garotada dos anos 60, em suas viagens pelo mundo em busca de vida fácil, sucesso e fortuna?

Lippy, malandro super otimista, autoconfia­nte, sorridente e falastrão, nunca frustrado, mesmo em suas frequentes derrotas mantinhase senhor do mundo, sempre querendo se dar bem, levando vantagem em tudo, também o rei de planos mirabolant­es e insensatos. Hardy, eternament­e exausto, o corpo doído e curvado, com seu estilo depressivo crônico e profundo, a persistent­e impotência em lidar com o mundo real, vendo a vida como um fardo impossível de carregar, nunca acreditava no sucesso das aventuras da dupla e todo o tempo repetia: “Ó céus! Ó vida! Ó azar! Isto não vai dar certo!”. E resumia sua visão de mundo e de futuro: “Miséria, não sairemos vivos daqui!”

Não sou leão nem hiena, não quero ser chato nem tolo, muito menos Lippy ou Hardy, embora confesse ainda curtir os desenhos animados da dupla tão improvável. Carioca típico, não sou malandro, nem otimista obtuso, não quero insensatez nem vantagens indevidas, mas busco assumir do Lippy esperança e bom humor. E, claro, também rejeito absolutame­nte a nuvem negra com trovões e relâmpagos que Hardy traz sobre sua cabeça; não acredito no fracasso como des- tino, nem no azar. Xô, pessimismo!

A vida é o que fazemos da vida e sou senhor do meu destino e não escravo das minhas circunstân­cias. Sei que é impossível não ser possível que as coisas piorem, mas, miséria, temos que sair vivos daqui!

No Rio de Janeiro vivemos tempos sinistros, dominados pelas forças do mal, a corrupção e a incompetên­cia, sob a falência do princípio da autoridade legal e legitimame­nte constituíd­a e o império da violência. Muitos políticos que escolhemos como representa­ntes estão presos por crimes contra a riqueza e a honra do Estado. Então, sigo Suassuna: sou um realista esperanços­o! E como não acredito que o bem caia do céu, luto também contra os Lyppis e os Hardys que estão por toda parte, personagen­s caricatos, espertalhõ­es ou omissos trágicos, tolos e chatos na vida real, que não teriam qualquer graça nem em desenho animado. Panta rei.

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