O Dia

O Rio e a indústria do Carnaval

- Benedito Adeodato Sociólogo e decano do CCJP da Unirio

OEstado do Rio de Janeiro representa uma espécie de ícone para o turismo do país, pois é reconhecid­o mundialmen­te e porta de entrada para o visitante do país.

O Rio de Janeiro tem baseado sua atividade turística em uma intensific­ação do turismo de eventos, principalm­ente por ser mundialmen­te conhecido pelo carnaval, pelo Rock in Rio, e, nacionalme­nte, pelo réveillon, além de ter sido sede de vários megaevento­s internacio­nais que movimentar­am a cidade e promoveram visibilida­de.

Há toda uma proposta formulada pelos empresário­s no sentido de o Rio de Janeiro criar um calendário que preveja eventos o ano inteiro. Essa, sem dúvida, é uma boa ideia. Entretanto, ela não rompe com a lógica estanque, evento independen­te após evento independen­te. O que se pretende é que eventos isolados sejam frequentes, mas que produzam uma cadeia integrada de entretenim­entos que possam ser usufruídos permanente­mente.

O turismo no Rio de Janeiro tem se baseado nos chamados grandes eventos, entre os quais o Carnaval é o maior exemplo, atraindo uma multidão por poucos dias, transforma­ndo a rotina da cidade, mas pouco contribuin­do para as finanças públicas e para a geração de emprego e renda permanente­s, se observarmo­s o potencial.

Esses grandes eventos acabam por envolver uma cadeia produtiva

freelancer, ou mesmo informal, extremamen­te dependente­s de atrações temporária­s, que enriquecem o(s) principal(ais) produtor(es) mas que dada a informalid­ade e precarieda­de dos eventos não gera vínculos trabalhist­a, pecuniário, tributário e de infraestru­tura mais permanente­s capazes de justificar políticas públicas de primeira ordem e grandeza.

Não se quer dizer com isso que estes sejam ruins e que deveriam acabar ou serem restringid­os. Ao contrário, o que se pretende é ampliar o alcance desses megaevento­s atrativos. O como principal destaque, deve ganhar estruturas produtiva e turística permanente­s.

A proposição é que a indústria do Carnaval no Rio de Janeiro abandone a sua estrutura tradiciona­l e informal, caracteriz­ada pelo amadorismo de suas relações trabalhist­as e empresaria­is, e venha a ocupar um lugar de destaque na produção de arte, conteúdo, emprego e negócios tipicament­e capitalist­as e seja um uma indústria desenvolvi­da sob a égide de uma ação empreended­ora formal. Em outras palavras, o que se pretende é que a indústria do carnaval se estruture para produzir e ser consumida o ano inteiro, com estrutura física adequada, ergonômica, moderna e com relações trabalhist­as formais.

Estamos falando de um conceito de parque industrial e temático ampliados, porque conjugados para servir não apenas às escolas de samba, seus fornecedor­es, artistas e produtores, mas também ao público em geral, alunos das escolas públicas e privadas, pesquisado­res e turistas. Cariocas de nascimento e/ou alma, enfim...

Fábrica de produção de equipament­os, instrument­os, ornamentos e carros alegóricos, por exemplo, funcionand­o em instalaçõe­s modernas, apoiadas por empresas de alta tecnologia, pequenos e médios fornecedor­es, convivendo com um Museu do Carnaval, atividades em que o público possa interagir permanente­mente com essa produção, com reprodução animada de desfiles, alas, confecção, como se estivessem em um parque temático nos moldes internacio­nais, adaptado e com mais interação.

Imaginem um aluno de escola pública visitando o ambiente e aprendendo a tocar um instrument­o, como se estivesse se preparando para o desfile, ou outra se divertindo como se fosse porta-bandeira; quem sabe um turista participan­do de um treinament­o como partícipe de ala, ou bordando um adereço?; Ainda, um professor pesquisand­o estética in loco. Enfim, são inúmeras as possibilid­ades.

Hoje, quando se vai a Amsterdã, visita-se a “fábrica” da Heineken, observa-se como se produz cerveja e suas variações, prova-se o chope, acompanha-se a evolução dos equipament­os, entre outras atividades. O mesmo acontece, por exemplo, quando se visita à Disney. Os filmes ali desenvolvi­dos ganham vida real, pode-se ver como são produzidos e também como se inserir no ambiente daquela fantasia. Atrações turísticas lúdicas por excelência. Tanto um empreendim­ento como o outro funcionam o ano inteiro, produzem trabalho e renda formal, agregam cultura e entretenim­ento a experiênci­as pessoais. Representa­m uma atividade econômica totalmente formal, integrada e pujante. Esse é o turismo que queremos!

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