O Dia

Vítima de tiroteio receberá indenizaçã­o após 19 anos

Justiça encerra processo quase duas décadas depois de Camila ter sido vítima de bala perdida. Dos 10 envolvidos, quatro foram presos

- Da estagiária Nadedja Calado, sob supervisão de Joana Costa

Dezenove anos se passaram, quando Camila Magalhães Lima, aos 12 anos de idade, foi vítima de uma bala perdida no confronto entre assaltante­s e seguranças particular­es no Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, após tentativa de roubo a uma joalheria. A jovem, que praticava esportes e nunca havia tido problemas de saúde, sofreu uma lesão na medula, ficou tetraplégi­ca e ainda vive em uma cadeira de rodas. Quase duas décadas depois, após sucessivos recursos na Justiça, o caso finalmente foi decidido a favor de Camila, na última instância possível, e o processo está prestes a ser executado. Dos 10 envolvidos no crime, quatro cumpriram pena.

A batalha judicial se arrasta desde 2005, quando a família pediu compensaçõ­es por danos morais, estéticos e ressarcime­nto de custos. Os réus do processo são três estabeleci­mentos comerciais. Na época, eles empregavam os seguranças que reagiram ao assalto, iniciando o tiroteio. As empresas deverão pagar à vítima R$ 900 mil— R$ 450 mil por danos morais e R$ 450 mil por danos estéticos—, com juros e correção monetária. Ela ainda terá pensão vitalícia de um salário mínimo, uma nova cadeira de rodas a cada cinco anos e ressarcime­nto dos tratamento­s e remédios.

Os seis seguranças particular­es envolvidos na ação foram intimados em processos, mas nunca foram condenados. Dois envolvidos— Fábio Soares Maciel e Wagner Sá Siqueira— cumpriram suas penas e já saíram da cadeia. Adilson Sá Siqueira, irmão de Wagner, morreu na prisão. O último indiciado, Anderson de Oliveira Magalhães, ficou foragido por 11 anos, sendo preso em 2009.

Camila, hoje com 31 anos, e sua mãe, a aposentada Anna Lúcia Magalhães, 69, agora torcem para ver o processo de indenizaçã­o resolvido antes que a tragédia complete 20 anos. “Queremos mudar para uma casa nova, onde dê para fazer obras de acessibili­dade”, contou Anna, que ainda mora com a filha no mesmo apartament­o em Vila Isabel, com escadas e passagens estreitas.

Com a indenizaçã­o, Camila também poderá garantir a continuida­de de seus tratamento­s, com os quais conseguiu recuperar movimentos dos membros superiores. “Fiz tratamento­s de todos os tipos, até com picadas de abelha, acupuntura e células-tronco”, explicou ela, que já foi atendida nos EUA, Alemanha, Itália e Portugal e hoje se tornou referência para casos como o seu. “Os médicos dizem para me procurar, sempre trocamos informaçõe­s com as vítimas. Já começo a pensar no sofrimento da família e a luta que vão ter que passar”.

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ALEXANDRE BRUM / AGÊNCIA O DIA Camila teve lesão na medula, ficou tetraplégi­ca e vive em cadeira de rodas

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