DEPENDENTES DE CELULAR BUSCAM TRATAMENTO
Instituto de Psiquiatria da UFRJ já atendeu a 500 pacientes com sintomas de dependência digital. Problema é tão sério que há casos de internação
Grupo do Instituto de Psiquiatria da UFRJ já tratou de pelo menos 500 pacientes. A secretária Ana Carolina Borges (foto), que sofre de tendinite por uso excessivo de smartphone, é um dos casos. Vício pode causar também doenças emocionais e de visão.
Ouso exagerado de celular está levando pessoas a tratamento médico e internações com mais frequência no Rio. De acordo coma psicóloga e doutora em saúde mental Anna Lúcia King, fundadora do Grupo Delete, do Instituto de Psiquiatria (Ipub) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nos últimos três anos, pelo menos 500 pessoas com sintomas de dependência tecnológica passaram pela unidade, a única especializada em detox digital da América Latina. Boa parte foi orientada a procurar hospitais, pois teve problemas de saúde pré-existentes agravados pelo uso compulsivo de telefone móvel.
“Atendemos a uma média de 20 pessoas todas as sextas-feiras (entre 8h e 12h, no campus da Praia Vermelha). É uma quantidade surpreendente. Vários pacientes chegam coma saúde bem debilitada, agravada pela maneira deseducada de se usar o celular, e acabam orientados abuscar ajuda médica especializada urgente ”, diz Anna Lúcia. Ela é autora do livro ‘Nomofobia’ (medo de ficar sem celular). Anna Lúcia lembra que um percentual de 10% da população mundial já sofre de dependência tecnológica.
Para ter direito a tratamento em oito sessões gratuitas para transtornos primários, o paciente tem que se cadastrar pelo email annaluciaking@gmail.com e fazer uma triagem que indicas eop roble maédependên cia ou uso abusivo de tecnologias em função do trabalho ou lazer.
Exemplos é que não faltam. A estudante de design Yasmin Frazão, de 21 anos, começou a desencadear transtorno psicológico por acordar todo dia de madrugada para conferir, no smartphone, emails e mensagens no WhatsApp e Facebook. “Aciono mais de mil vezes por dia os comandos do celular”, calcula. A secretária Ana Carolina Borges, 34, está com o braço direito engessado e afastada do trabalho, por causa de tendinite causada pelo uso excessivo do aparelho. O auxiliar de escritório X., 40, foi diagnosticado com ‘text neck’ ou ‘pescoço de texto’, que lhe causa dores na cabeça, pescoço e coluna. Ele confessa que passa pelo menos três horas do dia curvado para jogar games no celular. Até no trabalho.
Pesquisas indicam que o número de pessoas viciadas em smartphone cresceu quase 60% no mundo entre 2014 e 2015, segundo o Instituto Flurry Analytics. A quantidade de usuários que acessam os dispositivos mais de 60 vezes por dia — parâmetro reconhecido pelo instituto de pesquisas norte-americano como vício — pulou de 176 milhões para 280 milhões em um ano.