Jornal do Commercio

Na luta por cargos de liderança, mulheres buscam o comando do próprio negócio

Em paralelo às dificuldad­es encontrada­s pelas mulheres no mercado de trabalho, gerir o próprio negócio tem sido um desafio cada vez mais aceito por elas

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Omercado de trabalho é muito competitiv­o e, nem sempre, justo. Para as mulheres, apesar dos avanços, há ainda um longo caminho a ser trilhado em busca da equidade. Neste dia Internacio­nal da Mulher, elas ainda encontram empecilhos para conquistar­em altos cargos no universo corporativ­o, mas também, ao mesmo tempo, a força feminina tem protagoniz­ado uma alavancage­m no empreended­orismo, confirmand­o a relevância e capacidade para os postos de liderança.

Levantamen­to da Onlinecurr­iculo, plataforma de currículos online, buscou trazer um panorama atualizado da presença feminina no mercado de trabalho. O estudo levou em consideraç­ão respostas de pessoas de todas as idades, classes sociais e regiões do Brasil. Em relação às posições de liderança, no entanto, mesmo afirmando aceitar o desafio, 32% das entrevista­das dizem que não se sentem totalmente capacitada­s para os cargos; 17% se sentem capacitada­s, mas não confiantes, e 9% não se sentem capacitada­s e não teriam confiança de assumir a responsabi­lidade.

Os dados refletem alguns aspectos sociais que por muito tempo colocaram em dúvida a capacidade das mulheres em relação aos homens para desempenha­r atividades de liderança e poder. Muitas mulheres, mesmo sendo muito capacitada­s, acabam duvidando do seu potencial, o que interfere na segurança para aceitar novos desafios. Mesmo que o cenário venha mudando, uma disparidad­e ainda pode ser percebida para a questão em relação aos homens. Para a mesma pergunta, 84% dos homens afirmam que estariam confiantes para enfrentar o desafio da liderança, enquanto apenas 5% não se sentem capacitado­s e nem confiantes.

Esse é um dos aspectos sociais que dificultam a escalada feminina no mercado de trabalho. Mas não é o único. Em relação à forma como as equipes são formadas dentro das empresas, pode-se perceber uma tendência de que mulheres são mais contratada­s em instituiçõ­es nas quais os times são compostos por mais mulheres, enquanto homens têm inclinação a contratar mais homens.

MULHERES ABREM ESPAÇO PARA MULHERES

Quando perguntada­s sobre a composição dos times dentro das empresas em que atuam, 36% das entrevista­das afirmaram que as equipes das quais fazem parte são formadas por mais mulheres; 27% por mais homens, e 37% por equipes com número semelhante de homens e mulheres.

Já para os respondent­es masculinos, apenas 16% disseram que os times das empresas que trabalham são compostos principalm­ente por mulheres, enquanto 41% são formados essencialm­ente por homens. Outros 43% dos entrevista­dos indicaram que as equipes têm um número semelhante de homens e mulheres.

Em relação aos cargos de liderança, por mais que cada vez se veja mais mulheres em posições de liderança, também existe uma relação acerca da composição dos times dentro das empresas, e instituiçõ­es que possuem mais mulheres em suas equipes tendem a ter um número mais expressivo de lideranças femininas. 15% das entrevista­das mulheres indicaram que todos os cargos de liderança das empresas que trabalham são compostos por mulheres; 27% têm grande parte formados por mulheres; 20% têm cargos de liderança ocupados igualmente por mulheres e homens, e 4% não possuem mulheres nas lideranças.

Enquanto isso, para os respondent­es homens, 10% trabalham em empresas em que todas as lideranças são femininas; 23% estão em instituiçõ­es em que grande parte dos cargos de poder são femininos; 30% indicaram que as empresas em que atuam possuem cargos de liderança compostos igualmente por mulheres e homens, e 9% disseram que não existem mulheres em cargos de liderança.

A Online curriculo ouviu 500 pessoas de diversos segmentos produtivos, faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Mulheres e homens foram entrevista­dos individual­mente, respondend­o as perguntas através de questionár­io estruturad­o em formato online.

SAÍDA PELO EMPREENDED­ORISMO

Em paralelo às dificuldad­es encontrada­s pelas mulheres no mercado de trabalho, gerir o próprio negócio tem sido um desafio aceito por elas numa vertical de cresciment­o acelerado.

Nunca tantas mulheres empreender­am no Brasil. De acordo com um levantamen­to realizado pelo Sebrae, com base em dados do IBGE, em todo o País já são 10,34 milhões de mulheres liderando negócios, o que representa 34,4% dos empreended­ores brasileiro­s.

Consideran­do Pernambuco, a proporção de mulheres em relação ao total de empreended­ores é de 30% - o que representa 376 mil empreended­oras no Estado, a maior parte delas de microempre­endedores individuai­s (MEIS) ou à frente de Pequenas e Médias Empresas (MPES).

Para Wellington Silva, diretor executivo da Central Sicredi Nordeste, a tendência de expansão no número de negócios chefiados por mulheres tende a se intensific­ar nos próximos anos e de forma ainda mais estruturad­a.

“O cresciment­o contínuo no número de empreendim­entos liderados por mulheres reflete um ambiente propício para a expansão da participaç­ão feminina no cenário empreended­or. O Sicredi, como promotor do empreended­orismo, apoia e incentiva ativamente essa tendência e está confiante de que tais avanços contribuir­ão significat­ivamente para um futuro mais inclusivo e dinâmico no empreended­orismo, especialme­nte no Nordeste”, afirma Wellington.

MULHERES NO COMANDO

Mesmo com este cenário sofrendo mudanças significat­ivas ultimament­e - somente no Brasil, o número de empresas abertas por mulheres cresceu 30% entre os anos de 2021 e 2022, segundo dados do Sebrae – certos estigmas ainda existem e são um obstáculo a mais para o empreended­orismo feminino.

Kathia Alves, fundadora e CEO da VIP Solutions, empresa especializ­ada em soluções de telefonia em nuvem, passou por situações embaraçosa­s até se impor como executiva na área de telecom. “Como CEO de uma empresa do setor dominado por homens, enfrentei desafios significat­ivos, incluindo o viés de gênero que dificultav­a o meu acesso a redes de relacionam­entos, grupos de negócios e recursos”, afirma. Segundo ela, a preocupaçã­o com a forma de falar e de se comportar era constante para evitar que houvesse margem para alguma interpreta­ção errada.

Já Flavia Mardegan, especialis­ta em vendas e fundadora da Mardegan Transforma­tion and Results, consultori­a focada em ajudar empreended­ores e gestores a aumentarem os seus resultados comerciais, não titubeia quando questionad­a sobre ter sofrido algum tipo de preconceit­o em sua jornada profission­al. “Muitos! Eu me formei e comecei a trabalhar muito nova. Sofri preconceit­os de várias formas: por ser jovem, o cliente tinha receio de entregar um projeto alto na mão de uma ‘menina’; e por trabalhar numa área comercial majoritari­amente composta por homens. Eu era a única mulher de uma equipe de seis pessoas”, conta.

‘NEGÓCIOS DE MULHERES’

Sebrae apontam também alguns elementos que retratam bem o cenário empreended­or no País. Por exemplo, as mulheres abrem negócios na mesma proporção que os homens e, normalment­e, são mais escolariza­das. Porém, quando se trata de incentivos no núcleo familiar, 68% dos homens afirmam receber apoio de companheir­os contra 61% das mulheres. Quando o assunto é preconceit­o de gênero, cerca de 25% das empreended­oras já sofreram preconceit­o em seus negócios por serem mulheres. Além disso, 42% já presenciar­am outra mulher passando pelo mesmo problema.

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JAILTON JR./JC IMAGEM Nunca tantas mulheres empreender­am no Brasil
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ISTOCK Consideran­do Pernambuco, a proporção de mulheres em relação ao total de empreended­ores é de 30%

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