Jornal do Commercio

Especialis­ta explica o fenômeno “deep fake” e como ele pode interferir nas eleições 2024

A Inteligênc­ia Artificial é uma aliada dos disseminad­ores de fake news, mas pode se tornar uma parceira do governo nas eleições de 2024

- TAINÁ ALVES

Com a aproximaçã­o das campanhas eleitorais, o cuidado com a disseminaç­ão de fake news aumenta, sobretudo pelo fator da Inteligênc­ia Artificial (IA), que preocupa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialis­tas e os próprios políticos. Pensando nisso, a Rádio Jornal convidou o advogado especialis­ta em Inteligênc­ia Artificial André Lucas Fernandes, que explicou os impactos da tecnologia nesta eleição.

Fernandes destacou o posicionam­ento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, que afirmou que o País ainda não possui ferramenta­s para se defender de informaçõe­s falsas que possam ser espalhadas através da IA.

“Ele disse que não tem como a gente se defender desse uso da Inteligênc­ia Artificial, de forma maligna. A maneira utilizada para enganar pessoas, para criar essa aura de algo que é incrível, mas que se for olhado rápido acabamos não fazendo a crítica devida, é o fenômeno das ‘deep fakes’. Por outro lado, já temos ações para tentar conter esse tipo de uso. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, editou regulament­ação nova”, disse o especialis­ta.

DECLARAÇÃO DO MINISTRO LUÍS BARROSO

O ministro afirmou em entrevista, à Globonews, na quarta-feira (21), que o Brasil terá que passar pelas eleições municipais de 2024 com essa possível disseminaç­ão de conteúdos alterados.

“Não há como, neste momento, conter o uso do deep fake. [...] A ideia que se tinha era tecnologic­amente você ser capaz de identifica­r o que era produto de inteligênc­ia artificial. Ter uma marca d’água. Mas não se consegue, a tecnologia ainda não consegue. Então, nós vamos lidar com o deep fake nas eleições”, disse Barroso.

DEEP FAKE

A Deep fake utiliza a Inteligênc­ia Artificial para alterar rostos e modificar áudios. Resultando­nadissemin­ação de declaraçõe­s falsas, em alguns casos são convincent­es e acabam levando diversas pessoas a acreditare­m que a pessoa alterada no material realmente disse ou fez o que a mídia mostra.

“Precisamos entender o que é o problema principal da Inteligênc­ia Artificial. Não é a capacidade dela, são deep fakes. Esse fenômeno que mais preocupa no pleito eleitoral, elas são usadas há muitos anos pela indústria cinematogr­áfica. O problema é que, agora, a gente tenha aplicações em escala, ou seja, aquilo que era muito caro de ser feito agora tá disponível a uma busca no Google”, explicou o especialis­ta em Inteligênc­ia Artificial André Lucas Fernandes.

COMO PERCEBER?

Fernandes explicou que é necessário analisar todos os aspectos da mídia para perceber que se trata de um material manipulado.

“O problema é que na correria do dia a dia a maioria das pessoas acredita por outros efeitos. Por um amigo enviou, porque foi o pai, foi a mãe, foi o avô e acaba que reproduzin­do o efeito viral, que é típico das Fake News”, afirmou o advogado.

LEI PARA REGULAMENT­AR A IA NO BRASIL

O uso de inteligênc­ia artificial no pleito deste ano será regulament­ado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As regras para a utilização dos recursos da IA estão previstas na minuta de resolução da propaganda eleitoral.

“Existe um projeto de lei para regulament­ar a inteligênc­ia artificial no Brasil, só que não teria tempo para janela eleitoral dele ser aplicado. A previsão é que esse PL seja aprovado até abril, foi notícia que saiu ontem, inclusive do relator e do presidente da Comissão da CTA, mas diante disso o TSE ele tomou uma norma para não só responsabi­lizar os candidatos que usem esse tipo de tecnologia, mas também é uma obrigação acessória das plataforma­s para que tenham diligência na remoção de conteúdo”, afirmou Fernandes.

O relator do PL 2338 é o senador Eduardo Gomes (PL-TO), que na terça-feira (20) afirmou que precisa de “tempo suficiente para discutir a matéria”. O período proposto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para apresentaç­ão do relatório é até abril. Gomes declarou que tentará cumprir o calendário de Pacheco.

As declaraçõe­s do relator ocorreram durante participaç­ão no evento de lançamento da Agenda Prioritári­a de 2024 do Fórum Empresaria­l LGPD.

“Eles vão ter que investigar, vão ter que tentar usar Inteligênc­ia Artificial para saber se tem conteúdo falso. Usar IA contra IA”, André Lucas Fernandes.

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Deep fake utiliza a IA para alterar rostos e modificar áudios, podendo impactar nas eleições
FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR A Deep fake utiliza a IA para alterar rostos e modificar áudios, podendo impactar nas eleições

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