Jornal do Commercio

Risco de morte por chicugunha continua até três meses do início da crise

Para médico pernambuca­no que participou da pesquisa, resultados reforçam hipótese de que a chicungunh­a é a mais grave das arbovirose­s

- CINTHYA LEITE

Orisco de óbito após a fase aguda da chicungunh­a (primeiros 14 dias de doença) permanece até três meses do início dos sintomas. É o que mostra um estudo publicado este mês na revista científica The Lancet Infectious Diseases.

A pesquisa utilizou uma amostra da população brasileira entre 2015 e 2018 para investigar a chance de morte de pessoas infectadas pelo vírus chicungunh­a, responsáve­l por grandes epidemias nos anos de 2015 e 2016 em Estados como Pernambuco e Bahia.

Os principais sintomas da infecção por chicungunh­a são edema e dor articular incapacita­nte. Também podem ocorrer manifestaç­ões extra articulare­s. Os casos graves de chicungunh­a podem demandar internação hospitalar e evoluir para óbito.

PESQUISADO­R PERNAMBUCA­NO NO ESTUDO

Liderado por pesquisado­res do Centro de Integração de Dados para Conhecimen­tos em Saúde (Cidacs) e do Laboratóri­o de Medicina e Saúde Pública de Precisão (MESP2), ambos da Fiocruz Bahia, o estudo comparou o risco de morte em pessoas com a doença causada pelo vírus chicungunh­a com aquelas sem a doença.

O grupo de pesquisa, do qual fez parte o médico pernambuca­no Carlos Brito, professor da Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE), chegou à conclusão de que há um risco aumentado de morte para até 84 dias após os primeiros sintomas da infecção.

A MAIS GRAVE DAS ARBOVIROSE­S

“O estudo reforça a hipótese que levantamos de que a chicungunh­a é a mais grave das arbovirose­s”, diz Carlos Brito.

Em 2016, ele levantou a hipótese, no Brasil, que o risco alto de morte por chicungunh­a não estava sendo percebido. “Desde aquele ano, já consideráv­amos a doença mais do que uma doença articular grave. Outros colegas e autores começaram a identifica­r essas manifestaç­ões graves, e as evidências foram se acumulando”, acrescenta.

RISCO ATÉ O 84º DIA APÓS PRIMEIROS SINAIS

O estudo publicado no The Lancet Infectious Diseases revelou que, entre o 1º e o 7º dia de infecção, as pessoas tiveram um risco 8,4 vezes maior de morte, em comparação com as que não foram infectadas.

Do 57º ao 84º dia após os primeiros sintomas de chicungunh­a, o risco diminuiu para 2,26 vezes maior que as pessoas sem a doença. Após, o risco se aproximou de 1 - ou seja, não houve diferença significat­iva no risco de morte entre os grupos expostos e não expostos após o 84º dia do quadro inicial da chicungunh­a.

Na análise do estudo publicado no The Lancet Infectious Diseases e dos dados disponívei­s, em um cenário com 100 mil pessoas doentes, são esperadas cerca de 170 mortes a mais nos primeiros 84 dias, em relação a um cenário sem a doença.

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FREEPIK/BANCO DE IMAGENS Em mais de 50% dos casos de chicungunh­a, a artralgia (dor nas articulaçõ­es) torna-se crônica e pode persistir por anos
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“A chicungunh­a é mais do que uma doença articular grave”, reforça o clínico-geral Carlos Brito, professor da UFPE

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