O casal de verde e amarelo
Preciso reacendermos os archotes que foram apagados durante a disputa eleitoral e iluminarmos os caminhos que deveremos seguir para alcançarmos a paz e o bem-estar sociais.
ÉDomingo passado, nas escadas do santuário Dom Bosco, aqui em Brasília, fui cumprimentado alegremente por um casal de turistas vestidos com a camisa verde e amarela da seleção brasileira.
Tiravam fotos e apreciavam os belos murais azulados representando as quatorze estações da via sacra.
Fossem outros tempos, não duvidaria que aquelas pessoas estavam antenadas com a Copa e se preparavam para torcer orgulhosamente pela seleção.
Todavia, o rescaldo das eleições mais concorridas em nosso país trouxe como consequência até uma disputa pelas cores nacionais.
Aos poucos as águas do rio parecem voltar ao leito natural e a maioria das pessoas começa a se conscientizar de que a vida tem que seguir seu curso.
O pároco, como a perceber a importância do momento, trouxe-nos a magistral oração de São Francisco e destacou na homilia: onde houver discórdia que eu leve a união.
Quinta-feira passada, o jogo contra a Sérvia fez o milagre que há tempos esperávamos: unir todos os brasileiros em torno de um só coração, de um só ideal.
Richarlison e seus companheiros furaram a retranca ideológica difícil de transpor. Jogando pelas laterais, evitando os pontos fortes da defesa adversária, enviaram a mensagem que estávamos ansiosos para receber.
Está na hora de nos conectarmos fora de nossas bolhas. Trabalhar em equipe, ouvir outras opiniões, discordar com serenidade e arejar o entendimento sobre o mundo.
A propósito, recomendo o livro de Hans Rosling, FACTFULNESS, O HÁBITO LIBERTADOR DE SÓ TER OPINIÕES BASEADAS EM FATOS (Record, 2019). Nele, o autor desconstrói a nossa tendência de opinar por emoções, de sermos quase sempre pessimistas.
O mundo sofreu modificações e as tribos sociais simplificaram o ato de opinar, transformando a convivência entre semelhantes em uma batalha de emoções.
Caminhamos às escuras um tempo.
É preciso reacendermos os archotes que foram apagados durante a disputa eleitoral e iluminarmos os caminhos que deveremos seguir para alcançarmos a paz e o bem-estar sociais.
Pensando bem, aquele casal simpático se antecipou, assimilando a união proposta pelo capelão. Espero que tenham desfrutado a passagem pelo Distrito Federal. A energia legal que carregavam me foi contagiante.
Paz e bem!