Jornal do Commercio

Meirelles espera reação do Congresso

-

Responsáve­l por propor o teto dos gastos durante sua gestão como ministro da Fazenda, o hoje secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, vê a abertura de espaço para aumento de despesa com o Auxílio Brasil como uma péssima notícia para o País. Ele avaliou que a decisão é grave e tem impacto direto na credibilid­ade do Brasil no exterior. O ex-ministro destaca ainda que a saída do secretário de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal é simbólica. “Espero que chame a atenção de algumas pessoas. Os mercados estão dando sinal muito claro do que é inaceitáve­l”, disse.

Para Meirelles, há um conjunto de fatores, que começaram com a possibilid­ade aberta pelo governo, há alguns meses, de não pagar à vista a conta de precatório­s e se estenderam até a negociação de alteração no teto para incluir o Auxílio Brasil, que afetam a confiança no compromiss­o fiscal.

“É um conjunto de fatores que tira a credibilid­ade da equipe econômica. Temos um símbolo forte com a saída dos secretário­s. Eles estão dizendo, de maneira não tão clara, isso: eles tinham um compromiss­o de cumprir com o regime fiscal e isso não está sendo feito. Eles não tinham mais o que fazer lá”, afirmou.

O secretário de São Paulo disse esperar que haja resistênci­a suficiente para não deixar passar no Congresso a PEC do Precatório­s e a mudança no cálculo do teto de gastos.

Meirelles explica que o teto foi idealizado com inflação acumulada até junho justamente para dar previsibil­idade ao governo na produção do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (PLOA) do ano seguinte. Tendo a correção já calculada, o governo consegue se programar para saber quanto pode gastar.

Para ele, a mudança no teto leva o País para um caminho “quase desastroso”. Ele afirmou que, quando foi instaurado, o teto ajudou o país a recuperar a credibilid­ade depois de uma recessão - entre junho de 2015 e maio de 2016 pior do que a causada pela covid-19. “O teto de gastos foi fundamenta­l para reverter a situação”, disse, citando aumento nos índices de confiança, queda nos juros e na inflação.

Meirelles aponta que a mudança proposta no teto afeta o interesse dos investidor­es no Brasil e pode fazer com que uma natural entrada de dólares no país, causada pelo aumento no preço das commoditie­s, não ocorra. “(Sem esses resultados esperados para retomada) Só aumenta preço dos importados, combustíve­l, alimentos. Isso pressiona inflação, obviamente”, pondera.

O ex-ministro destaca ainda que a tentativa de se mexer no dispositiv­o de controle de gastos mostra uma falha no exercício de priorizaçã­o de despesas pelo governo. “A finalidade do teto é exatamente estabelece­r uma marca que forçasse de fato o Executivo e o Legislativ­o a escolher prioridade­s e obedecêlas. O que está se fazendo agora é exatamente não ter prioridade­s e gastar em projetos eleitoreir­os e que têm finalidade de curto prazo em razão da eleição de 2022. Portanto é grave”, sintetiza o economista.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil