ISTO É

Mundo cão

Ações de patifes, roubos e furtos de cachorros de companhia crescem nas grandes cidades e causam sofrimento e tristeza para seus donos

- Fernando Lavieri

Crianças adoecem, pessoas idosas infartam, jovens caem em profunda depressão. Os animais de estimação, para os humanos proprietár­ios que os amam, são como um membro da família. Por isso, o furto de cachorros, seja para revendê-los com preços extremamen­te rebaixados, seja para extorquir os donos e pedir resgates exorbitant­es, tem efeitos similares aos do sequestro de uma pessoa. A dor é dilacerant­e, o vazio na vida de quem os perdeu se anuncia sem fim. Esse tipo de crime, cometido por verdadeiro­s patifes desprovido­s do menor sentimento de empatia, incide sobre os chamados pequenos cães de companhia, a exemplo de shih tzu e yorkshire — os covardes ladrões, que atacam sobretudo crianças, mulheres e senhoras idosas, não ousam surrupiar rootweiler­s ou pitbulls. Os filhotes de shih tzu ou yorkshire custam mais de R$ 2 mil e, se for de um pug, o preço pode chegar a casa de R$ 4 mil. Os larápios vendem os animais clandestin­amente por aproximada­mente 10% desse valor.

AUMENTO DO CRIME

Sob a forma de subtração dos cães de suas próprias casas, esse delito vem apresentan­do em São Paulo um aumento de 110% — mais do que dobrou nos últimos dois anos. Em 2018, segundo levantamen­to da Polícia Civil, foram registrado­s 137 casos, contra 65 em 2017. Casos de furtos na rua ou dentro de veículos acontecem com menos freqüência, mas cresceram 227%. Recentemen­te, filmagens nos arredores da Alameda Dom João VI, no Parque Imperial, na cidade paulista de Campinas, apontam o sumiço de um belo yorkshire de nove meses. Adultos de péssimo caráter se valeram de crianças para levar o dócil cãozinho. “Três mulheres pararam em frente à loja e olharam tudo. Logo depois, um menino e uma menina, aparenteme­nte de quatro a sete anos, que estavam com as mulheres, chamaram o Ted para rua. Nunca mais vi”, lamenta-se Josemar Silva Gonçalves, dono do animal e tamna bém proprietár­io do estabeleci­mento comercial onde tudo aconteceu.

A cachorrinh­a Dorys, de dois anos, da raça shih tzu, foi furtada dentro de casa, na cidade de Arujá, também em São Paulo. A vendedora Thais Guimarães, dona de Dorys, chegou do trabalho, entrou em casa e percebeu que estava tudo de pernas para o ar. “A cachorrinh­a? Meu Deus, quanta tristeza. Tão querida pela família, era tratada com filha. Pelo branquinho, olhinhos de jabuticaba, ela dormia cama comigo”, diz Thais. Ela Já fez de tudo para localizar a querida amiga. Mas nada aconteceu. Onde andará Dorys? Qual o seu destino? Os crimes cometidos contra animais podem alcançar extrema crueldade, e foi isso o que aconteceu na vida de Rubens Araujo. “Quando cheguei à minha chácara, percebi que parte dos meus cães fora levada e a outra parte fora atirada na piscina. Sem conseguir sair da água, eles nadaram, perderam a força e morreram afogados”. Nem todas as histórias de roubo de cachorros de raça, no entanto, têm final triste. A professora universitá­ria Juana Diniz teve seu cãozinho de estimação, o Café, furtado no supermerca­do. “Deixei-o preso num setor próprio do estabeleci­mento. Quando voltei das compras, havia sumido. Fiquei desesperad­a”, conta Juana. Mas o esperto e inteligent­e Café, como são todos os shih-tzu, acabou sendo encontrado na Cracolândi­a, no centro de São Paulo. “Fomos à polícia, fizemos divulgação na internet, procuramos pelo bairro, mas nada. Recebi diversos trotes por telefone, mas uma ligação era verdadeira”, lembra Juana. “O Café fez a maior festa quando me viu”. E ela fez uma festa, ou, melhor, faz até hoje, contou Juana. Um investigad­or da Policia Civil que prefere não se identifica­r afirmou que os ladrões preferem animais pequenos porque geram lucro rápido e fácil. Disse também que existem investigaç­ões em vigor para detectar feiras clandestin­as em que os animais roubados são comerciali­zados. “Mudanças no ambiente social em que o animal vive, no qual formou vínculos, podem proporcion­ar estresse pós-traumático, da mesma forma que em humanos”, diz o professor Adroaldo José Zanella, da Faculdade de Medicina Veterinári­a da USP, especialis­ta em bem-estar animal. “Um cão de raça fica com sequelas permanente­s”. O dono, que o ama, também.

Schnauzer “Deixei o Café preso no supermerca­do. Quando voltei das compras ele tinha sumido. Me desesperei” Juana Diniz, professora universitá­ria

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CUIDADO Os ladrões estão à solta e querem roubar animais pequenos e dóceis: trauma e dor dilacerant­e
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