Folha de S.Paulo

Ensinava astronomia e pedia sorrisos como pagamento

JÚLIO LOBO (1960 - 2024)

- Francisco Lima Neto coluna.obituario@grupofolha.com.br

O astrônomo Júlio Lobo se apaixonou pelos mistérios dos céus ainda criança, aos 9 anos, depois de ver um meteoro rasgando o céu. O pai lhe deu uma enciclopéd­ia e ele passou a pesquisar sobre o assunto.

O interesse se tornou profissão, o que permitiu rodar o país ensinando astronomia. O pagamento que exigia era o sorriso no rosto daqueles que miravam seus equipament­os para o alto e se encantavam com os corpos celestes.

Lobo nasceu em Campinas, em 7 de janeiro de 1960, e se autodenomi­nava contador de histórias do universo e estudioso de lendas, mitos e curiosidad­es. Aos 17 anos, virou estagiário do Observatór­io Jean Nicolini, em 1977, mesmo ano de inauguraçã­o do local, então denominado Estação Astronômic­a de Campinas. Esse foi o primeiro observatór­io municipal do Brasil, além de ser pioneiro na oferta de ação educativa regular.

Ele teve como professor o próprio Jean Nicolini, que, segundo suas palavras, “ensinou o céu para ele”. Tinha como missão aproximar as pessoas do universo para construir legados e transforma­r vidas.

Lobo integrava o grupo de “caçadores de meteoros”, rede de astrônomos amadores e profission­ais de diversos países que se ocupam de estudar os fenômenos estelares.

Durante sua trajetória, buscou fazer com que mais pessoas se interessas­sem pela astronomia, além de ajudar a construir os próximos passos da pesquisa brasileira na área.

Recentemen­te, Júlio planejava um projeto que tinha como objetivo ajudar a explicar para as pessoas o céu e os astros.

“Eu já vi inúmeras palestras dele em diversas cidades, já trabalhei com ele. Quando levava os equipament­os em praça pública e alguém olhava no telescópio, abria um sorriso. As pessoas perguntava­m quanto paga? Ele sempre respondia, me paga com o sorriso”, diz o filho Pedro Lobo.

Pedro conta que o pai tinha um humor peculiar. “Um dia minha irmã levou o namorado para ele conhecer. Ele fechou a cara, colocou o cara sentado e disse que tinha uma pergunta muito séria e importante para fazer. Todo mundo ficou tenso. Ele virou e falou: ‘menino, qual sabor de pizza que você gosta’”, isso define bem o humor do meu pai, diz.

Lobo morreu no dia 26 de maio, aos 64 anos, em decorrênci­a de problemas cardíacos e pulmonares. Ele passou mal quando estava entrando no carro para ir ao velório do cunhado, irmão de sua esposa, que morreu no dia anterior.

“Vou lembrar dele como uma pessoa divertida, de muito conhecimen­to, que gostava de ensinar e que amava o céu”, finaliza Pedro.

Além de Pedro, Lobo deixou as filhas Juliana e Carolyna, e a esposa Silvia.

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