Filho de Ogum, foi pai espiritual de centenas
IDELSON DA CONCEIÇÃO SALES (1965 - 2024)
O babalorixá Idelson da Conceição Sales, conhecido popularmente como Pai Idelson, era um pai de santo firme, mas também carinhoso.
Natural de São Félix, no Recôncavo Baiano, com 24 anos assumiu o terreiro Ilê Axé Ogunjá, após a morte do fundador, Pai Antônio. Aprendeu desde adolescente as obrigações do candomblé, entendendo depois o porquê de tantas orientações recebidas: “Eu estava sendo preparado para assumir a casa”, dizia.
Durante os 34 anos de sacerdócio, Pai Idelson se notabilizou por ajudar aqueles que batiam à sua porta. “Vivia uma fase muito difícil, quando ouvi em um sonho para procurar o Ogunjá, que eu não conhecia. Marquei uma consulta, Pai Idelson jogou os búzios para mim e me orientou. Depois que eu fiz o santo com ele, minha vida prosperou”, contou Alan Brito, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Pai Idelson era filho de Ogum, orixá da guerra. A vida de babalorixá era menos pesada com a ajuda de uma pessoa especial: Mãe Raquel, amiga e confidente por mais de 40 anos. “Minha mãe ajudava Pai Idelson a lidar com os desafios no terreiro. Ele era genioso quando jovem, e o jeito calmo de minha mãe trazia equilíbrio”, contou Luzia Gomes, filha mais velha de Raquel.
Homem sério, Idelson era discreto na vida pessoal. Demonstrava carinho pelos muitos amigos, filhos e filhas de santo, fosse pessoalmente ou por mensagens. Fã de MPB, parecia encontrar conforto para suas dores íntimas nas letras das canções. Um medo? “Que o Ogunjá vire igreja”, dizia.
Andava sempre bem vestido, além de ostentar um notório bigode, marca herdada do seu pai biológico. Era fascinado por louças e móveis antigos, que cuidava pessoalmente. Estava ansioso pela reforma da cozinha do terreiro, possibilitada por um edital, mas não a viu sair do papel.
Após a morte de Mãe Raquel (por Covid-19), em 2021, Idelson não foi mais o mesmo. Perdeu, a um só tempo, “mãe, filha, irmã e confidente”, nas palavras dele. “Sinto que ele não superou a morte da minha mãe, ainda mais com as restrições do velório, no auge da pandemia. Eles se amavam muito, era um amor de outro plano existencial”, disse Luzia.
Idelson morreu de câncer de pâncreas aos 58 anos, no dia de São Jorge (23 de abril) — santo católico que representa Ogum, no sincretismo religioso.
Não teve filhos biológicos, mas foi pai espiritual de centenas, deixando órfãos seus filhos e filhas de santo, além de familiares, amigos e admiradores.