Folha de S.Paulo

professor, era amante dos livros

- Claudinei Queiroz

NILTON CÉSAR NICOLA (1955 - 2024)

SÃO PAULO Semanalmen­te, Nilton César Nicola recortava crônicas e artigos de jornais e revistas para distribuir aos seus alunos. Eles deveriam ler, fazer uma síntese e escrever uma crítica. A atividade, que valia pontos para a nota semestral, também era uma forma de o professor incentivar a leitura de seus pupilos.

“Era com carinho que ele preparava esse material todo: trazia, corrigia, comentava. Eu admirava a atenção dele porque muitas vezes os professore­s leem rapidament­e e dizem que erros de gramática não contam, mas ele comentava item por item os erros”, lembra a esposa Sílvia Siqueira, 80.

A vida de Nicola foi dedicada ao mundo acadêmico, e ele nunca parou de estudar. Em 1979, graduou-se em direito pela USP.

Em 1984, formou-se em história e, no ano seguinte, fez a licenciatu­ra em história para dar aulas, ambas também na USP.

Enquanto era professor concursado da rede estadual de São Paulo, fez pós-graduação em comunicaçã­o social com ênfase em educação pela Universida­de Anhembi Morumbi, finalizada em 1998. Em 2010, fez mestrado em psicanális­e, educação e sociedade pelo Instituto Superior de Educação e Teologia, seguido por outro mestrado em letras, pela Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie, e, por fim, doutorado em letras na FFLCH/USP.

“Nilton ensinava a matéria, a leitura e a escrita. Tinha uma visão transdisci­plinar das disciplina­s, tendo dado várias palestras sobre esse tópico, com sua esposa Sílvia, também professora e escritora”, diz Nilse Cristina, 66, sua única irmã.

Em sua carreira acadêmica, Nicola foi professor da Faculdade Anhembi Morumbi por mais de 20 anos. Lecionou ainda nas faculdade Santa Marcelina e de Direito de Peruíbe.

Foi durante sua passagem pela Faculdade Santa Marcelina que conheceu Sílvia. Ele era professor de direito e ela, de inglês. Os dois vinham de divórcios e confirmara­m a união em 2005. Nicola já tinha um filho, Carlos Eduardo, 34, e Sílvia, três: Pedro —falecido em 2023—, Pedro Paulo e Sílvia Regina.

Durante sua vida, o professor montou uma biblioteca com mais de 7.000 livros e fazia questão de abrir as portas para alunos, colegas, amigos e parentes.

Há dois anos, ele teve diagnóstic­o de ELA, uma doença degenerati­va que silenciou sua voz, debilitou seus movimentos e tirou sua vida. Morreu na madrugada de 19 de março, aos 68 anos, com insuficiên­cia respiratór­ia e pneumonia.

Deixou a mulher, o filho Carlos Eduardo, o neto Sereno, 3, e a irmã, além dos dois enteados.

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