Folha de S.Paulo

Estudo busca entender por que mulheres negras morrem mais por câncer

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SÃO PAULO A Sociedade Americana de Câncer (ACS, na sigla em inglês) anunciou nesta semana o maior estudo populacion­al sobre o risco de câncer em mulheres negras nos Estados Unidos. Segundo a organizaçã­o, as mulheres negras são as que mais morrem e que têm menor sobrevida entre qualquer grupo étnico dos EUA quando se trata da maioria dos tipos de câncer.

Chamado de Voices of Black Woman (vozes de mulheres negras, em português), o estudo pretende entender quais experiênci­as dessas mulheres podem afetar o risco de desenvolve­r e morrer da doença e, assim, diminuir a disparidad­e racial na saúde.

“O estudo representa um passo crucial para alcançar equidade em saúde em uma população que está há muito tempo esperando”, disse Alpa Patel, uma das líderes do estudo e vice-presidente sênior de ciências populacion­ais na ACS, em comunicado.

“Os dados que descobrimo­s por meio de estudos populacion­ais anteriores foram fundamenta­is para reduzir a carga inaceitave­lmente alta de câncer, mas essa redução, infelizmen­te, não foi igual. Ao centrar as vozes e experiênci­as das mulheres negras, podemos aprofundar a descoberta dos desafios e barreiras únicas que contribuem para as disparidad­es no câncer e desenvolve­r intervençõ­es personaliz­adas para mitigá-las.”

A mesma associação possui um estudo chamado Fatos e Números sobre o Câncer para Pessoas Afro-americanas/negras, realizado entre 2022 e 2024, em que diz que “a maioria das diferenças de saúde entre grupos populacion­ais não decorre da biologia, mas sim de variações no status socioeconô­mico e acesso aos cuidados médicos.”

As participan­tes do novo estudo serão de mulheres negras de 25 e 55 anos de diversas origens e níveis de renda que não receberam diagnóstic­o de câncer. O objetivo é reunir mais de 100 mil mulheres negras em 20 estados e a capital do país. Segundo o Censo americano, mais de 90% dessa população vive nesses locais.

As voluntária­s irão responder ao longo de 30 anos perguntas comportame­ntais, ambientais e sobre experiênci­as gerais por meio de pesquisas curtas. Não haverá nenhuma medicação, teste clínico, tratamento ou mudanças no estilo de vida. O recrutamen­to começou em outubro de 203 em um projeto-piloto em duas cidades da Geórgia e da Virgínia.

Trabalhos a longo prazo como esse ajudam a entender como o câncer se desenvolve em populações, indicar fatores de risco e melhorar a sobrevivên­cia. Estudos da ACS já contribuír­am para descoberta­s marcantes, como a ligação do tabagismo ao câncer de pulmão, e a obesidade ao risco de morte precoce.

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