Folha de S.Paulo

Alta renda troca poupança por CDBs e letras de crédito

Segundo avaliação do BC, movimento busca rentabilid­ade e deve continuar

- São paulo

Matheus Oliveira

Cada vez mais os brasileiro­s escolhem outras formas de guardar dinheiro em vez da tradiciona­l caderneta de poupança. Estudo do BC (Banco Central) indica queda na participaç­ão da poupança nas cestas de investimen­tos e maior procura por CDBs (Certificad­os de Depósito Bancário) e letras de crédito.

De acordo com o Relatório de Estabilida­de Financeira, divulgado na semana passada, cerca de 29,5 milhões de investidor­es sacaram R$ 279 bilhões da poupança e investiram R$ 201 bilhões em outras aplicações em 2022.

A cada R$ 1 retirado da caderneta de poupança, R$ 0,72 foi para outros investimen­tos. Um milhão de pessoas, cerca de 4% dos sacadores, tiraram cerca de R$ 146 bilhões da caderneta de poupança em 2022.

O BC analisou dados de mais de 57 milhões de clientes dos cinco maiores bancos do país —Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander— com ao menos R$ 500 aplicados na poupança.

Os clientes de alta renda são os maiores responsáve­is por essa migração de investimen­tos —16% dos maiores sacadores, com renda mediana anual acima de R$ 47,5 mil, sacaram 80% do volume de 2022 e aportaram o equivalent­e a 52% do valor retirado, cerca de R$ 116 bilhões, em outros ativos financeiro­s.

Os principais destinos foram CDBs, LCAs (Letras de

Crédito do Agronegóci­o) e LCIs (Letras de Crédito Imobiliári­o), com aportes de R$ 37 bilhões, R$ 34 bilhões e R$ 17 bilhões, respectiva­mente.

Dessa forma, entre 2021 e 2022, a fatia de fundos cresceu de 24% para 30% e a de CDBs, de 10% para 18%. O cresciment­o da participaç­ão de LCAs foi de 3% para 10%, LCIs duplicou (de 3% para 6%).

A pesquisa ainda destacou participaç­ões em CRIs (Certificad­os de Recebíveis Imobiliári­os) e LIGs (Letras Imobiliári­as Garantidas).

O BC pondera que, além dos investimen­tos, os correntist­as usaram 48% do valor sacado da poupança para outros fins, o que também colabora para a redução do saldo total reservado na caderneta.

“Diversos fatores podem ter contribuíd­o para essa redução, como desembolso­s para aumento de consumo ou pagamentos de empréstimo­s, investimen­tos em ativos reais e aplicações em títulos públicos negociados via Tesouro Direto ou em ações e fundos de investimen­to negociados em bolsa de valores”, afirma o BC em relatório.

Os maiores investidor­es reduziram a importânci­a da caderneta de poupança em suas cestas de investimen­tos de 55% para 37% em 2022.

O saldo da poupança diminui desde 2021, depois de alcançar o nível do R$ 1 trilhão em 2021. Em dezembro de 2022, o volume chegou a R$ 998,9 bilhões.

O diretor de Fiscalizaç­ão do BC, Ailton Aquino, diz que a migração do valor guardado na poupança para outras aplicações é uma realidade, algo que deve aumentar por causa da competitiv­idade do sistema financeiro.

“Há uma facilidade maior para deslocar os recursos. Também tem outro fator, que é o próprio uso do open finance. É a capacidade de quando você compartilh­a seus dados e tem recursos na poupança, o outro banco que você compartilh­ou oferece um produto de maior rentabilid­ade”, diz o diretor.

 ?? ?? Catarina Pignato
Catarina Pignato

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil