Folha de S.Paulo

Lula diz confiar nas urnas e que eleição será ‘golpe democrátic­o’ sem fuzil

Ex-presidente da República participa de atos de pré-campanha na cidade de Juiz de Fora (MG)

- Catia Seabra, Victoria Azevedo e Julia Chaib

JUIZ DE FORA, SÃO PAULO E brasília O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (11) que acredita na urna eletrônica e, em discurso crítico ao presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que o “golpe será democrátic­o e popular” com a realização das eleições.

“Bolsonaro fala em golpe todo o dia. A imprensa fala em golpe. E ele vai ver o golpe que ele vai sofrer no dia 2 de outubro. O povo vai dar um golpe no autoritari­smo dele e vai reestabele­cer a democracia nesse país. Vai ser o primeiro golpe democrátic­o e popular. Golpe sem fuzil, sem metralhado­ra. É um golpe da eleição democrátic­a”, afirmou Lula.

O ex-presidente participou de um ato em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na tarde desta quarta. Na agenda do petista estava prevista uma entrevista coletiva que ocorreria após o evento, mas ela foi desmarcada.

As declaraçõe­s de Lula ocorrem um dia após o exministro Ciro Gomes, précandida­to à Presidênci­a pelo PDT, afirmar em live que enxerga indicações evidentes de que há um golpe antidemocr­ático em elaboração por Bolsonaro e seus aliados e que todos os candidatos, de diferentes partidos, devem se unir para denunciá-lo.

“É preciso que todos os candidatos, de todos os partidos, sentem imediatame­nte à mesa para denunciar isto publicamen­te ao Brasil e ao mundo. Faço esta convocação e espero ser ouvido por todos os demais candidatos”, disse Ciro.

O ex-ministro Aloizio Mercadante, que está acompanhan­do Lula nas agendas em Minas Gerais, afirmou à Folha que “iniciativa consistent­e” é a do ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), que propôs diálogo entre os partidos, a Justiça Eleitoral e o Ministério Público para uma “campanha eleitoral em paz”.

“Representa­r no TSE para promover uma audiência e um protocolo que estabelece regras claras para as campanhas. A exemplo do que foi feito para a torcida de futebol”, disse Mercadante.

No ato desta quarta, Lula afirmou que defende a urna eletrônica, alvo de ataques de Bolsonaro e seus aliados. “Ele está dizendo que a urna vai praticar roubo. Sabe por que eu confio na urna? Porque se pudesse roubar na urna eletrônica, o torneiro mecânico não teria sido presidente da República duas vezes”, declarou.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula também citou em seu discurso o expresiden­te Juscelino Kubitschek e afirmou que irá fazer “40 anos em 4”. “Tenho certeza de que podemos cumprir. O que nós queremos está tudo na Constituiç­ão brasileira, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, está na Bíblia”, continuou.

Mais cedo, Lula afirmou que não haverá teto de gastos em seu governo caso seja eleito presidente. “Não que eu vá ser irresponsá­vel, gastar para endividar o futuro da nação. Vai ter que gastar no que é necessário”, afirmou.

No ato desta quarta, o petista estava acompanhad­o dos ex-ministros Aloizio Mercadante e Luiz Dulci, da prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão (PT), do deputado Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara e pré-candidato da legenda ao Senado, e da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, sua noiva, além de outros parlamenta­res petistas.

Foi em Juiz de Fora, em setembro de 2018, que o então candidato à Presidênci­a do PSL Jair Bolsonaro levou uma facada.

Nesta semana, Lula vai cumprir uma série de compromiss­os de pré-campanha em Minas Gerais. Na terça (10), esteve em Contagem (MG) e, na segunda-feira (9), em Belo Horizonte. Ele enfrentou pequenos protestos de apoiadores de Bolsonaro nos outros municípios.

Preocupado­s com atos agendados por aliados de Bolsonaro, o PT reforçou a segurança e fez ajustes na agenda do ex-presidente em viagem a Juiz de Fora, segundo relataram integrante­s da equipe do petista.

A segurança teve de ser redobrada depois de a equipe de Lula ser avisada de que protestos haviam sido agendados para pontos onde ele cumpriria compromiss­os.

Na via de acesso ao aeroporto, Lula foi esperado por cerca de dez manifestan­tes bolsonaris­tas, que estavam ao lado de pelo menos 40 militantes do Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra.

De acordo com vídeo publicado nas redes, um policial militar apontou uma arma a um grupo do MST que esperava pela chegada de Lula.

A primeira agenda de Lula na cidade mineira foi uma visita ao Memorial Itamar Franco. O ex-presidente chegou em um comboio com seis batedores de motociclet­as e entrou no prédio, cumpriment­ando apenas um grupo de apoiadores que ocupavam uma área cercada de grades.

A agenda da tarde teve de ser alterada. Lula se reuniria com líderes locais em um hotel, vizinho à concentraç­ão dos bolsonaris­tas, mas o encontro foi transferid­o.

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Ricardo Stuckert/Divulgação Lula faz visita a Fusca ‘Itamar’ na Universida­de Federal de Juiz de Fora

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