Folha de S.Paulo

O apogeu da mamata

- Alvaro Costa e Silva

Como já havia feito com a Lei Paulo Gustavo, Bolsonaro vetou a Lei Aldir Blanc, projeto que criaria uma política permanente para o setor cultural, com repasses de verbas da União para estados e municípios durante cinco anos. A Lei Orlando Brito, que proporcion­aria a isenção de impostos na importação de equipament­os para fotógrafos e cinegrafis­tas, também foi vetada. Surpresa zero. Um dos conceitos de propaganda do fascismo canarinho é promover o ódio à cultura. O argumento é aquele manjado: todo artista é mamateiro.

Na realidade, o jamegão presidenci­al funciona como reserva de mercado, deixando o campo livre para os mamateiros de estimação. Ai, a mamata! Orgulho da produção nacional, tão perseguida e, no entanto, tão vitoriosa sob os auspícios do governo.

Mesmo enfrentand­o a garimpagem e a grilagem em terras indígenas, o contraband­o de ouro e madeira, os fabricante­s de cloroquina durante a pandemia, as empresas multinacio­nais de armamento patrocinad­as pela Secretaria de Cultura, a mamata conseguiu se destacar entre as atividades que mais prosperara­m no Brasil dos últimos três anos e meio.

Os exemplos de sucesso vêm de cima. Vide o caso Renan Bolsonaro. Com os três irmãos mais velhos investigad­os por falcatruas, ele manteve a tradição e entrou na mira da PF, por suspeita de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A mamata é um negócio familiar, que passa de pai para filho. E não para: o presidente gastou R$ 4,2 milhões no cartão corporativ­o em 35 dias.

A grande família das Forças Armadas não poderia desperdiça­r a chance. Torrou milhões na operação Verde Brasil, e a Amazônia continua sendo destruída. Usou verbas do combate à Covid com picanha, camarão e uísque. Inacredita­velmente, não sabe explicar a compra de milhares de comprimido­s de genéricos do Viagra. Trair e conspirar contra as instituiçõ­es, tramando um golpe militar, tem lá suas recompensa­s.

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