Folha de S.Paulo

No frevo ou na cama de pregos, encantou o público

MARIA josé VERAS DUARTE (1935-2022)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

Pernambuca­na de Afogados da Ingazeira, Verinha tinha o frevo no sangue. Foi passista no Recife e integrou um grupo voltado ao ritmo no Rio de Janeiro. Depois, seguiu carreira solo.

Na capital paulista, Verinha permaneceu uma longa temporada em cartaz na boate Oásis —cujas atividades foram encerradas no final dos anos 1960— e dançou frevo até para o então prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, que virou seu fã. Além disso, ao lado do Trio Nagô, levou a dança para todo o interior do estado.

De rainha do frevo —eleita por três anos consecutiv­os—, Verinha também tornou-se adepta do faquirismo na década de 1950 por ser muito popular na época.

No Brasil, a profissão foi comum até a primeira metade do século 20.

Esse tipo de espetáculo envolve o controle do corpo e da respiração para a realização de feitos de resistênci­a, como engolir fogo, deitar sobre pregos e se submeter a jejuns prolongado­s, por exemplo.

A artista apresentou-se em São Paulo e Campinas (a 93 km da capital) de 1957 a 1958.

Em um dos espetáculo­s, em Campinas, ficou dentro de uma urna de vidro, deitada sobre uma cama de pregos e cercada por serpentes, em jejum durante 46 dias. Foi o auge da sua carreira, encerrada com o casamento.

Verinha, que havia tido um filho em um relacionam­ento anterior, foi mãe outras duas vezes.

Atualmente, ela morava em Belo Horizonte (MG) com um dos filhos, a nora e uma neta.

A história da faquiresa Verinha está no livro “Cravo na Carne – Fama e Fome: O Faquirismo Feminino no Brasil” (2015), de Alberto Camarero e Alberto de Oliveira, e no documentár­io “Fakir” (2019), de Helena Ignez.

Aos oito anos de idade, Alberto Camarero, que hoje é escritor, cenógrafo e artista plástico, assistiu ao espetáculo de Campinas e nunca esqueceu o que viu.

“Fiquei encantado. Era diferente da representa­ção do feminino que eu tinha dentro de casa. Minhas irmãs eram muito recatadas. Na hora que vi aquela mulher, naquela situação, fiquei enlouqueci­do. Todo meu trabalho artístico foi derivado dessa experiênci­a, eu acredito”, diz Alberto.

Ele conta que 54 anos depois a encontrou na capital mineira quando se hospedou em um hotel em frente ao restaurant­e de um dos filhos de Verinha. Ambos ficaram amigos.

Ela morreu no dia 23 de abril, aos 86 anos. A causa da morte não foi divulgada. Viúva, deixa três filhos e três netos.

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