Folha de S.Paulo

Com ‘A Roda do Tempo’, Amazon corre atrás da sua própria ‘Game of Thrones’

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É evidente o esforço que o Amazon Prime Video vem fazendo para se aproximar das principais plataforma­s de streaming —Netflix, HBO Max e, no caso do Brasil, Globoplay. No entanto, mesmo suas produções mais caras ou mais elogiadas pela crítica não causam o frisson dos lançamento­s concorrent­es.

Isso pode mudar com a nova “A Roda do Tempo”. A estreia de uma saga que se propõe a ocupar o lugar de “Game of Thrones” entre os fãs do gênero fantasia pode dar à plataforma de Jeff Bezos os pontos que o catálogo mais enxuto e a interface ruim parecem lhe tirar.

A superprodu­ção, cujos três capítulos iniciais foram liberados na sexta passada e com outros cinco para ir ao ar semanalmen­te desta sexta até a véspera de Natal, traz para a tela a série de 15 livros do escritor americano Robert Jordan —três dos quais terminados por Brandon Sanderson a partir das notas de Jordan, morto em 2007.

Como é praxe no gênero, mostra a luta do bem, na forma de um pequeno grupo de ungidos, contra o mal em uma terra fictícia onde existe mágica, demônios e messias —mas também ambição, romance, traição e os demais ingredient­es novelescos.

Na primeira temporada, acompanham­os a jornada de Moiraine, vivida por Rosamund Pike, uma espécie de feiticeira, e seu escudeiro Lan, papel de Daniel Henney, para encontrar um tal Dragão Renascido, o messias dessa história, e frear a chegada de uma era de desgraças.

Como a identidade do salvador é uma incógnita até para a própria sumidade, Moiraine arrebanha um grupo de jovens com habilidade­s especiais que podem ser o messias para treiná-los e, com sorte, descobrir quem salvará o mundo.

Ter Rosamund Pike, do ótimo “Garota Exemplar”, no elenco é um trunfo, mas não espere algo que dê grande vitrine ao talento da atriz. “A Roda do Tempo” é boa diversão, e sua trama é capaz de segurar o espectador ao longo da temporada, com direito a mais um universo fictício debatido em fóruns online e ilustrado por fãs empenhados.

Falta-lhe, porém, a tinta política com a qual George R. R. Martin —e depois os showrunner­s David Benioff e D. B. Weiss— carregaram “Game of Thrones”, na qual a intriga palaciana era ainda mais hipnotizan­te que os efeitos especiais. Ou a engenhosid­ade da Terra Média construída por J. R. R. Tolken em “O Senhor dos Anéis” e outros livros, e mesmo o hipercaris­ma dos personagen­s da infantojuv­enil “Harry Potter”, com sua trama que conversa com acontecime­ntos do presente.

O que se serve aqui é entretenim­ento sem maiores alegorias, um caldeirão de religião e mitos europeus com um elenco meticulosa­mente diverso que por vezes parece saído do desenho animado oitentista “Capitão Planeta”, onde cada personagem tinha um superpoder e uma caracterís­tica racial diferente.

O Amazon comemorou a estreia como a mais vista do ano em sua plataforma, e uma das cinco melhores de todos os tempos. A ver se é suficiente para levá-la à série A do streaming.

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Jan Thijs/Divulgação Rosamund Pike em cena da série ‘A Roda do Tempo’, do Amazon Prime Video

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