Abel Ferreira discursou contra banqueiros e já foi comentarista
Finalista da Libertadores, treinador português vive embate com parcela da imprensa esportiva brasileira
Primeiro técnico europeu achegara duas finais consecutivas de Libertadores, Abel Ferreira tenta erguer mais uma veza taça continental como Palmeiras neste sábado (27), diante do Flamengo, às 17h, em Montevidéu, no Uruguai.
O título coroaria um percurso agitado e marcado, em boa parte, por sua cruzada contra um aparcelada imprensa. Nem sempre foi assim, contudo.
Se hoje o português de 42 anos se senta no banco de reservas, por um período breve de sua vida ele esteve em outra posição: com uma visão mais privilegiada do campo, direto das cabines de transmissões televisivas. Quando critica o trabalho de comentaristas brasileiros, Abel o faz com conhecimento de causa, segundo pessoas que acompanharam seu período na TV.
Assim que deixou a sua primeira experiência como treinador, ao ser demitido da base do Sporting, em 2014, o ex-lateral direito passou, então, a comentar jogos para a Sport TV, principal emissora esportiva de T Vaca boem Portugal. Foram poucos meses na função, mas o suficiente para abrir novos horizontes profissionais.
“Depois que ele saiu do nosso canal para trabalhar no Braga, o encontramos muitas vezes, e ele diz iaque não fechava aporta e tinha certeza que ainda voltaria a comentar mais adiante”, conta o repórter Carlos Rodrigues, que participou de diversas transmissões ao seu lado.
Na ocasião, Abel havia retornado a sua cidade natal, Penafiel, e cumpria a rotina da maioria dos jornalistas locais, viajando de carro ao lado dos colegas para as partidas.
Longe de qualquer arrogância que poderia advir da carreira sólida que construiu como atleta, o comandante palmeirense se mostrava um verdadeiro obcecado por feedbacks sobre o seu desempenho nas câmeras.
“Entre os comentaristas que tivemos, ele foi, sem dúvida, o mais curioso. Carregava um interesse genuíno e fazia uma preparação extrema para os jogos”, afirma Rodrigues.
Possivelmente por isso, Abel não aceite hoje qualquer análise que julgue ser rasa sobre o trabalho que mantém no Palmeiras desde que assinou vindo do PAOK, da Grécia, em outubro do ano passado.
O estilo forte, muitas vezes agressivo, não é uma exclusividade de sua relação com os formadores de opinião no Brasil. Alguns anos atrás, em evento com conterrâneos em Penafiel, chegou a discursar, inclusive, contra banqueiros.
“Costumo dizer que nós temos que seguir os exemplos. Quando eu vejo nossa cidade hoje em dia, você tem os banqueiros e, ao mesmo tempo, pessoas sofrendo para pagar 100 mil euros (R$ 629 mil) durante uma vida, correndo o risco de, se não quitarem uma prestação, hipotecarem tudo e mais alguma coisa. E, por outro lado, assistimos indivíduos que roubam de uma forma escandalosa e passam impunes. É algo que me deixa triste”, desabafou, arrancando aplausos da plateia.
Essa faceta que deixa transparecer mais claramente sua personalidade esteve escondida durante grande parte da carreira como lateral. Até encerrá-la precocemente, aos 31 anos, por uma lesão no Sporting, praticamente não carregava qualquer entrevero fora de campo. “Ele nunca foi uma pessoa que chamasse a atenção pelo temperamento. Enquanto jogador, sempre foi muito tranquilo na relação com a imprensa”, recorda Carlos Freitas, diretor de futebol responsável por trazê-lo para o Sporting e depois por sua transição para ser treinador.
Com consultas vindas do exterior, Abel não tem a sua continuidade assegurada no Palmeiras ao fim da Libertadores. Qualquer que seja o desfecho de sua história, contudo, Freitas vislumbra um técnico mais valorizado do que quando desembarcou no Brasil.
“Ele seguramente sairá mais forte e preparado. Passou por outro continente, outra cultura e o Palmeiras é um clube com um peso completamente diferente de qualquer outro que ele treinou antes”, conclui.
Abel Ferreira em partida pela Libertadores, em julho