Folha de S.Paulo

Bolsa fecha em queda de 3,3% e dólar sobe 1,35% a R$ 5,59

- Clayton Castelani

são paulo A Bolsa de Valores brasileira fechou em forte queda e o dólar disparou nesta terça-feira (19) com o mercado temendo que as discussões em Brasília sobre o novo programa de distribuiç­ão de renda do governo resultem em aumentos de gastos acima do teto fiscal. A tensão também elevou os juros futuros.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, caiu 3,28%, a 110.672 pontos, depois de recuar 3,91% durante a tarde. O dólar subiu 1,35%, a R$ 5,5950, perto da máxima de R$ 5,6130.

O dólar manteve o viés de alta durante todo o pregão, mesmo depois do leilão realizado pelo Banco Central para venda à vista de US$ 500 milhões (R$ 2,78 bilhões).

O novo valor do Auxílio Brasil reforça a tensão gerada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PPAL), que havia defendido na véspera, em entrevista ao site da revista Veja, que o país não poderia priorizar a responsabi­lidade fiscal e o respeito ao teto de gastos em detrimento das necessidad­es da população mais vulnerável diante dos impactos sociais provocados no Brasil pela pandemia.

Embora exista consenso sobre a necessidad­e de combater as mazelas sociais geradas pela pandemia, o mercado digere mal a separação que parte da classe política faz entre disciplina fiscal e investimen­tos sociais. Essa dicotomia, presente na fala de Lira, tem aumentado ainda mais a percepção quanto ao risco fiscal do país, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimen­tos.

“Lira revela sua pretensão populista ao impor uma dualidade inexistent­e entre o social e a responsabi­lidade, como se houvesse um entrave, ou que para se fazer política social tivesse que ser irresponsá­vel”, disse Sanchez.

Para o economista, as declaraçõe­s de Lira também indicam que ele poderá ser um dos principais agentes políticos a pressionar pelo aumento dos gastos públicos com a proximidad­e das eleições de 2022.

O mercado também operou atento à possível votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) dos precatório­s em comissão especial da Câmara. Os títulos da dívida judicial reconhecid­a representa­rão gastos de aproximada­mente R$ 89 bilhões em 2022 e o parcelamen­to de parte disso é visto como contrapart­ida para viabilizar o Auxílio Brasil.

A pressão do cenário fiscal sobre o câmbio tem feito o BC intervir diariament­e no mercado desde a última quartafeir­a (13), quando deu início a uma série de leilões de novos contratos de swap cambial tradiciona­l, o que na prática equivale à venda da divisa no mercado futuro.

No mercado de juros futuros, a taxa DI (Depósito Interfinan­ceiro) para janeiro de 2023 foi de 9,35% para 9,84%.

A alta de 49 pontos-base nos juros, que se reflete no aumento da dívida do governo e no aperto do crédito para pessoas físicas e empresas, retira aproximada­mente R$ 6 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto), calcula Étore Sanchez, da Ativa.

“Esse montante faria diferença no social, dado que é o equivalent­e a 20% dos cerca de R$ 30 bilhões que o governo quer estourar do teto de gastos para pagar o novo Bolsa Família”, diz Sanchez.

Para 2025, o avanço dos juros DI foi de 10,27% para 10,89% e, em relação a 2027, passou de 10,66% para 11,19%.

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