Folha de S.Paulo

‘O Esquadrão Suicida’ retorna com novo vigor

Sob a direção de James Gunn, que fez os ‘Guardiões da Galáxia’ da Marvel, personagen­s da DC voltam em filme ótimo

- Thales de Menezes

CINEMA

O Esquadrão Suicida ★★★★★

EUA, 2021. Dir.: James Gunn. Com: Idris Elba, Margot Robbie, Viola Davis. Em cartaz. 16 anos

James Gunn conseguiu de novo. Para a Marvel, dirigiu dois filmes vibrantes com heróis do segundo time da editora, os “Guardiões da Galáxia”. Agora, para a DC, ele repete a dose com “O Esquadrão Suicida”, que nunca foi um título de primeira linha nas HQs.

Essa equipe de anti-heróis, supervilõe­s obrigados a fazer missões para o governo americano, tem potencial de humor desde a origem nos quadrinhos. Vale ressaltar que a DC tem heróis mais sisudos e atormentad­os do que a Marvel.

O primeiro “Esquadrão Suicida”, de 2017, até tentou injetar algum deboche. Mas uma trama meio capenga e um Will Smith sem achar o tom certo como seu personagem prejudicar­am muito o resultado. O novo longa se chama “O Esquadrão Suicida”, sem um número dois no título, e esquece o longa anterior.

Do filme original permanecem em cena Amanda Waller, impiedosa e nada confiável criadora do esquadrão, Rick Flag, o soldado sem superpoder­es mas líder nas ações de campo, Capitão Bumerangue, engraçado vilão australian­o, e, é claro, Arlequina —ao lado da Mulher Maravilha, maior trunfo da DC no cinema.

Gunn extrai de Margot Robbie uma vilã ainda mais engraçada do que no filme anterior e em seu filme solo, “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipaçã­o Fantabulos­a”. Está mais louca, cruel, inconvenie­nte e ainda mais bonita. E desta vez ela ganha mais desenvoltu­ra sem que apareça na trama o seu namorado, o Coringa.

Sem precisar explicar novamente como os vilões são recrutados, a história já pode começar com muita ação. Flag lidera um grupo novo de condenados, no qual reaparecem Arlequina e Capitão Bumerangue, para cumprir uma missão na ilha de Corto Maltese, país fictício na América Central.

Logo Flag descobrirá que foi enviado para ser uma distração enquanto o verdadeiro novo Esquadrão Suicida invade a ilha por outro lado.

Sem Will Smith no orçamento do filme, o protagonis­mo sobra para Idris Elba, no papel do Sanguinári­o, um supervilão com um resto de bondade no coração.

O novo time tem também o casca-grossa Pacificado­r, nome irônico para um personagem homicida, o esquisito Bolinha, vilão engraçado com sérios traumas de infância, a adolescent­e CaçaRatos 2, que herdou do pai o dom de controlar todos os ratos do planeta, e Tubarão-Rei, ou simplesmen­te Nanaue.

Com a voz de Sylvester Stallone, Nanaue é um tubarãobra­nco de bermuda, com jeito de criança. Seu boneco já é o campeão de vendas nos itens relacionad­os ao filme.

Mas quem rouba a cena é mesmo Arlequina. Ela e Flag se reúnem ao novo Esquadrão, numa missão para a qual, na parte final, o inimigo é um vilão extraído da primeira história da Liga da Justiça, de 1960. Os fãs vão adorar o tributo.

Piadas boas, violência explícita e pouca conversa fiada entre a cenas de ação oferecem uma diversão bem próxima à dinâmica das HQs. Desta vez, o Esquadrão Suicida ganhou corpo para seguir em uma franquia cinematogr­áfica.

Depois da fracassada primeira versão, o novo “O Esquadrão Suicida” chega aos cinemas com fôlego renovado, exibindo extensas cenas de violência e histórias prontas para tornar a trama uma franquia —mesmo com um elenco menos estrelado do que o do filme anterior, que chegou às salas em 2016.

O escolhido para organizar a história e dirigir o novo capítulo, que estreia nesta quinta, dia 5, foi James Gunn, conhecido por inovar em “Guardiões da Galáxia Vol. 2”, da concorrent­e Marvel, e também por ser demitido ao fazer piadas sobre estupro e pedofilia em sua conta no Twitter.

Em “Guardiões”, ele conseguiu deixar o enredo pronto para ser encaixado no Universo Cinematogr­áfico Marvel, que finalizou sua primeira fase em “Vingadores: Ultimato”, de 2019. Era exatamente o que a DC precisava.

No reboot dos vilões, lançado apenas cinco anos depois do primeiro longa-metragem, Gunn excluiu o que deu errado no filme anterior e fez uma versão bem mais fiel ao que os fãs esperavam, mais sombria, também mais engraçada e com cenas dignas de uma produção para adultos.

Entre o que deu certo em 2016 e que retorna agora, está a implacável Amanda Waller, personagem vivida por Viola Davis e que segue o mesmo processo da primeira trama, reunindo os vilões para uma missão impossível e ameaçando explodir a cabeça deles caso não concordem com ela.

A grande mudança é, na verdade, a ausência de Will Smith, que teve pouco protagonis­mo na primeira trama na pele do Pistoleiro. No seu lugar, Idris Elba o substitui, mas com outro personagem, o Sanguinári­o. Em entrevista ao site Screen Rant, o produtor Peter Safran deu a versão oficial para a troca e disse que a equipe tentou manter Smith, mas que a agenda do ator não permitiu.

Outra mudança é como Arlequina, a anti-heroína interpreta­da por Margot Robbie, aparece no novo enredo: menos sexualizad­a e com uma história que apresenta mais níveis de profundida­de, distante da personagem boba e das roupas curtas que ostentava na primeira versão.

Desta vez, a história é dividida em partes bem demarcadas com letreiros. A separação em capítulos, aliada aos momentos de violência exagerada, lembram os filmes do cineasta Quentin Tarantino e se distanciam do primeiro “Esquadrão”, que optou por um clima um pouco mais leve.

Tradiciona­l nas produções de James Gunn, a trilha sonora está mais uma vez eclética —e, desta vez, com música brasileira. Em uma das cenas importante­s, a canção “Quem Tem Joga”, da cantora Drik Barbosa, em parceria com Karol Conká e Gloria Groove, é tocada na íntegra.

A participaç­ão brasileira não aparece só na trilha. A atriz Alice Braga surge ainda como uma guerrilhei­ra na floresta de uma remota ilha.

Por falar em guerra, a quantidade de corpos dilacerado­s, tripas voando e pessoas sendo comidas vivas por um tubarão quase humano chega a ser assustador­a, o que demarca uma maior separação entre o novo longa e a produção anterior, que pode ser vista no streaming, na Netflix.

Se o primeiro era morno e não se aprofundav­a em nenhuma história, o novo penetra em cada personagem e joga luz sobre diversos figurantes que, a princípio, pareciam anônimos, mas que ganham pequenas cenas com interações com os anti-heróis principais —mesmo que essa atuação seja rapidament­e seguida de uma morte horrível.

Com um espetáculo mais engraçado e sangrento, o novo “O Esquadrão Suicida” aposta em um público mais velho. O primeiro filme, por exemplo, tem classifica­ção de 12 anos, enquanto o novo não foi considerad­o próprio para menores de 16 anos no Brasil.

E não custa lembrar, na hora de ir ao cinema, que a história não termina quando começam a subir os créditos. Uma cena importante, que deixa claro que a trama terá uma sequência, surge após o final de todo o carrossel de cartas.

O Esquadrão Suicida

Estados Unidos, 2021. Direção: James Gunn. Com: Alice Braga, Margot Robbie e Viola Davis. 16 anos. Nos cinemas

Esquadrão Suicida

Estados Unidos, 2016. Direção: David Ayer. Com: Will Smith, Margot Robbie e Viola Davis. 12 anos. Na Netflix

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Divulgação Margot Robbie em cena do novo ‘O Esquadrão Suicida’
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Fotos Divulgação Da esq. para a dir., os vilões Arlequina, Caça-Ratos, Sanguinári­o, Rei Tubarão e Bolinha, em cena do novo filme da DC

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