Lira defende ‘retaguarda’ a pesquisa eleitoral
Presidente da Câmara refuta fraude em urna eletrônica, mas pede auditagem ‘mais transparente’
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defendeu o que chamou de “retaguarda” de 10 a 15 dias antes de eleições em que fosse adotado um “cuidado maior” com informações repassadas por pesquisas eleitorais.
BRASÍLIA O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), saiu em defesa de uma bandeira eleitoral do presidente Jair Bolsonaro ao declarar nesta quarta-feira (4) que, apesar de não haver fato relevante para afirmar que houve fraude nas urnas eletrônicas, uma auditagem “mais transparente” é necessária.
Lira ressaltou ter disputado e vencido oito eleições em Alagoas, seis delas nas urnas eletrônicas. “Não tenho nenhum fato relevante que possa falar que houve fraude nas urnas eletrônicas. Não posso desconfiar do sistema em que eu fui eleito.”
Ele, porém, ponderou sobre a auditagem do sistema.
“Mas a discussão é: se não há falhas, se não há problema, por que nós ficarmos discutindo essa versão? Por que essa versão cresce? O Brasil é feito com problemas de versões, é isso que a gente tenta combater.”
“Então, na minha visão, também se não há problemas não há por que nós não chegarmos numa situação de termos uma auditagem, seja lá de que maneira for, de forma mais transparente, para que não se tenha uma eleição, independente de quem seja eleito, contestada”, disse.
Lira participou de programa da rádio Bandeirantes e falou sobre a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, que deve ter relatório apreciado em comissão especial da Câmara nesta quinta-feira (5) com provável derrota.
Ele lembrou que vários partidos tinham o mesmo entendimento na comissão, mas mudaram de avaliação —em reunião no final de junho, 11 legendas, incluindo siglas aliadas do governo, decidiram se unir contra o voto impresso.
Lira disse que o voto impresso é problema do Legislativo e que a solução se dará no Congresso. Ele questionou se faz sentido a Câmara aprovar duas PECs para ficarem paradas no Senado ou se o foco teria que ser o Senado decidir se vota ou não uma PEC parada na Casa há seis anos.
“Porque se não votar uma que está lá desde 2015, não vai aprovar uma que vai aprovar desde 2021. Nós estamos perdendo tempo, energia, muitas vezes gerando atritos entre instituições democráticas que são necessárias para o equilíbrio do Brasil de maneira que não trará benefício nenhum”, disse.
Em entrevista à rádio 96 FM, de Natal, Bolsonaro elogiou as declarações de Lira.
“Temos apoio do Arthur Lira, nosso presidente da Casa, deixando bem claro: o que o Parlamento decidir, vai ser executado. E obviamente vai contar com meu apoio também nessa proposta”, disse.
Bolsonaro também disse que o fundo eleitoral para 2022 deve ser reduzido a “menos da metade” dos R$ 5,7 bilhões aprovados pelo Congresso. Sem citar cifras, disse que deve sancionar o equivalente ao que foi utilizado na eleição de 2020 (R$ 2 bilhões) com a correção pela inflação.
Mais tarde, em entrevista à CNN Brasil, Lira disse que o sistema de votação é confiável. “Do sistema brasileiro, eu não tenho o que dizer a respeito dele.”
“Mas eu coloco um mas. O mas é da seguinte situação: eu não tenho do que duvidar. Mas uma grande parcela da população coloca dúvidas sobre o resultado do pleito”, disse. “E não é conveniente para qualquer um que seja eleito, nem deputado federal, nem senador, governador ou presidente da República, o cargo mais relevante do nosso país, uma eleição contestada.”
“Mas se nós pudermos chegar num ponto de autocontenção dos poderes e achar uma saída que sirva a todos, seria o ideal.”
A fala de Lira sobre o sistema de votação se aproxima do adotado pelo presidente, que tem escalado suas ameaças golpistas e defendido que as eleições de 2022 ocorram com o voto impresso no país.
Três governadores —entre eles um aliado de Bolsonaro— criticaram a proposta do voto impresso e reafirmaram confiança no sistema de votação eletrônico supervisionado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Os chefes dos governos de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), e do Pará, Helder Barbalho (MDB), participaram na manhã desta quarta de evento sobre meio ambiente na Embaixada do Reino Unido, em Brasília.
Após reunião com o presidente da Conferência da ONU sobre o Clima (COP-26), Alok Sharma, eles foram questionados por jornalistas sobre a PEC do voto impresso e as falas golpistas de Bolsonaro, que vem atacando o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e denunciando —sem provas— existência de uma suposta fraude no sistema eleitoral brasileiro.
As críticas mais duras vieram de Zema, governador próximo a Bolsonaro.
“Eu sou totalmente favorável ao voto que já me elegeu, que elegeu diversos governadores, e ex-presidentes. Eu não imprimo minha conta bancária, não imprimo o extrato do meu cartão de crédito e acho que 99% da população não faz isso. O meio digital veio para ficar, existe auditoria digital, então é o mundo moderno. Hoje nós não usamos mais papel carbono. Acho que querer imprimir [o voto] é a mesma coisa que não confiar numa copiadora e querer papel carbono”, disse.
Ele lamentou a crise institucional aberta com os ataques de Bolsonaro a Barroso e ao sistema eleitoral.
“Eu lamento muito porque isso não coloca arroz, carne e feijão no prato do brasileiro e também não coloca vacina no braço. Eu vejo isso semelhante a uma guerra civil. (...). É hora de nós trabalharmos em prol de reformas, em prol de um Brasil do futuro, e não ficarmos aí com polêmicas que eu julgo totalmente desnecessárias”, afirmou.
Na mesma linha, Casagrande classificou as investidas de Bolsonaro contra o Judiciário como algo “muito ruim para a democracia brasileira”.
“[É] muito ruim para a democracia brasileira. Os países só prosperam quando têm estabilidade institucional. Infelizmente, desde o primeiro momento do governo Bolsonaro tem tido confronto entre o Poder Executivo e as demais instituições. Era com o Congresso, agora é com o TSE, já foi com o STF [Supremo Tribunal Federal]. Esse tipo de comportamento é muito ruim para a democracia brasileira, cria instabilidade interna e externa. Capital estrangeiro foge do Brasil, então assim: nós estamos num ambiente de confronto permanente. É o estilo do presidente Bolsonaro, mas é um estilo que não ajuda o país”, disse.
Casagrande também afirmou que “não há necessidade do voto impresso” e que nunca houve um “questionamento objetivo” contra o uso de urnas eletrônicas.
Barbalho declarou que o Brasil é “referência no seu modelo de voto” e que é preciso fortalecer o TSE.
“Devemos fortalecer esse modelo e, acima de tudo, fortalecer o TSE. Compreendo que o Brasil pode sim cada vez mais aprimorar o uso da tecnologia, mas tenho absoluta confiança na credibilidade do processo eleitoral brasileiro”, afirmou.