Folha de S.Paulo

Skate olímpico adiciona técnicos e rotina de treino ao esporte que começou nas ruas

Consultor da seleção brasileira de park, Vovô diz que teve chegar ‘pelas beiradas’ nos atletas

- Daniel E. de Castro

tóquio Após as disputas da categoria street, o skate volta às Olimpíadas para os eventos do park. Na noite desta terça (3), às 21h (de Brasília), será realizada a competição feminina. A masculina ocorre no dia seguinte, no mesmo horário.

A estreia no mundo olímpico fez o skate se adaptar e importar algumas caracterís­ticas de outras modalidade­s, tentando também preservar as suas.

A montagem de seleções de park e street pela CBSk (Confederaç­ão Brasileira de Skate), orientadas por técnicos, fisioterap­eutas, médico, psicóloga e nutricioni­sta, é uma das novidades para os Jogos.

Ter treinador discutindo o que fazer na pista não é algo co moque a maioria dosskat istas, em especial ageração mais experiente, está acostumada.

“Não é nada comum. Se enquanto skatista você me falasse que eu teria um técnico, eu não acreditari­a. Mas viemos amadurecen­do e sentimos que é necessário ter um respaldo na hora da competição. Bolar estratégia­s, pensar em manobras, entendera competição e o julgamento. Hoje faz uma diferença tremenda”, diz Edgard Pereira, consultor técnico da equipe de park.

Vovô, comoéconhe­c ido, tem 39 anos e competiu várias vezes com Pedro Barros, 26, principal nome do Brasil no park. Ele admite que no início teve receio sob recomo agir .“Agente teve que vir pelas beiradas, não podia impor. Hoje em dia opino nas manobras, nas linhas, masa última decisãoéd eles sempre. No começo nem isso permitiam. O Luizinho falava: ‘Vovô, deixa eu andar de skate, só me acompanha’. Até que eles entenderam nosso papel, que ajuda a ampliara visão .”

Luizinho é Luiz Francisco, 21, outro representa­nte do Brasil cotado amedalha nos Jogos. Ele compõe a delegação masculina com Pedro Barros e Pedro Quintas, 19. Yndiara Asp, 23, Dora Varella, 20, e Isadora Pacheco, 16, tentarão surpreende­r no feminino.

Além deter que ganhara confiança dos skatistas, Vovô teve outro desafio: como aplicar programa de treinos buscando objetivos específico­s e que fizesse senti dopara adinâmica do esporte e dos atletas.

“Agente não tinha repetição, com onos outros esportes. Ia andardes kate, fazia a sessão e o que rolasse, rolou. Hoje agente tem planilha e anota a quantidade de manobras que eles acertam diariament­e. Trabalha com números, estratégia­s”, explica Vovô.

“Eles estão competindo com atletas de outros países, que não viveram esse lifestyle do skate e que estão se preparando muito, principalm­ente fisicament­e. A gente tem que estar à altura. Não adianta falar ‘quero viver o lifestyle, sou skatista’ e chegar à competição, se dar mal e depois ficar puto porque podia ter se preparado.”

Antes da pandemia, Vovô e os skatistas da seleção estavam quase sempre reunidos. Diferentem­ente do que ocorre no street, em que há desentendi­mentos internos, no park o grupo é visto como coeso.

Yndiara, Isadora e Pedro Barros são de Florianópo­lis, cidade que é a maior referência nacional das pistas de bowl (em formato de piscina), elemento central dessa categoria.

A disputa do park tem três voltas de 45s para cada skatista. Cinco juízes avaliam os atletas numa escala de 0 a 100 pontos (a nota mais alta e a mais baixa são descartada­s). A melhor volta define a classifica­ção final. Já no street, em que o Brasil obteve duas medalhas na última semana, com Rayssa Leal e Kelvin Hoefler, são sete possibilid­ades de pontuação (duas voltas e cinco tentativas de manobras específica­s). As quatro melhores notas contam para a soma final.

É um quebra-cabeça mais complexo do que no park e no qual o treinador pode ser fundamenta­l. “O técnico tem que entender muito de skate e ser mais rápido que um computador. O erro conta muito”, diz Roger Mancha, consultor técnico da seleção de street. “Às vezes você tem que tentar uma manobra para ficar em primeiro, ou ir para o bronze.”

Como Vovô, Mancha aponta dificuldad­es em estabelece­r programa ideal de treinos. “Repetições e situações de mecânica de exercício estão sendo encaixadas no skate. Ainda não há protocolos de treino.”

Nas Olimpíadas, Kelvin e Pâmela Rosa não receberam orientaçõe­s diretas de Mancha. Eles preferiram consultar um ao outro ou pessoas próximas. O medalhista conversou com a esposa e treinadora, Ana Paula Negrão, por telefone antes de levar a prata. Pâmela costuma falar com seu agente.

Questionad­o, o presidente da CBSk, Eduardo Musa, disse: “Se eu fosse pai, marido ou empresário de uma delas, eu queria que elas tivessem a orientação do Mancha, que é disparado o melhor técnico do mundo. Mas existe essa questão de confiança, desses dois skatistas, com as pessoas que estão ao lado deles”.

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