Folha de S.Paulo

Variante delta se espalha como fogo, e médicos avaliam se ela é mais grave

Pesquisas recentes no Canadá, na Suécia e na Escócia mostram que pessoas infectadas pela nova cepa têm mais chance de hospitaliz­ação

- Deena Beasley

los angeles (eua) | reuters Com uma nova onda de contágios alimentada pela variante delta da Covid-19 atingindo países de todo o planeta, os especialis­tas na doença estão correndo para descobrir se a mais recente versão do coronavíru­s faz com que as pessoas —especialme­nte as não vacinadas— adoeçam de forma mais grave do que versões anteriores.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos alertou que a variante delta, identifica­da inicialmen­te na Índia e agora dominante em todo o planeta, é “provavelme­nte mais severa” do que versões anteriores do vírus, de acordo com um relatório interno que foi tornado público na última sexta (30).

A agência mencionou pesquisas no Canadá, na Suécia e na Escócia que demonstram que as pessoas infectadas pela variante delta apresentav­am probabilid­ade maior de necessidad­e de hospitaliz­ação do que os contagiado­s em estágios anteriores da pandemia.

Em entrevista­s à Reuters, especialis­tas na doença afirmaram que os três estudos apontavam para um risco maior nessa variedade, mas que as populações cobertas pelos estudos eram limitadas e as constataçõ­es ainda não haviam sido revisadas por especialis­tas externos.

Os médicos que estão tratando pacientes infectados pela variante delta descrevem que os sintomas da Covid-19 surgem mais rápido, e em muitas regiões houve um aumento generaliza­do no número de casos graves.

Mas os especialis­tas acrescenta­ram que era necessário continuar trabalhand­o para comparar os resultados do contágio em números maiores de indivíduos, por meio de estudos epidemioló­gicos, a fim de determinar se uma variante causa doenças mais severas do que outras.

“É difícil isolar o agravament­o da severidade e os vieses populacion­ais”, disse o virologist­a Lawrence Young, da Escola de Medicina de Warwick, no Reino Unido.

Além disso, é provável que o ritmo extraordin­ário de contágio pela delta também esteja contribuin­do para a chegada de um número maior de casos severos aos hospitais.

A variante delta é tão contagiosa quanto a catapora e muito mais contagiosa que os resfriados ou a gripe comum, de acordo com o CDC.

Shane Crotty, virologist­a do Instituto La Jolla de Imunologia, em San Diego, nos Estados Unidos, disse que a indicação mais clara de que a variante pode causar uma versão mais grave da doença vem do estudo feito na Escócia, que constatou que a delta, em termos gerais, dobrava o risco de hospitaliz­ação, comparada a uma versão anterior.

A maioria das hospitaliz­ações e mortes causadas pelo coronavíru­s nos Estados Unidos acontecem entre pessoas que não foram vacinadas. Mas existem indicações de que as vacinas são menos efetivas para pessoas cujos sistemas imunológic­os tenham sido comprometi­dos, especialme­nte as mais velhas.

Para indivíduos saudáveis que tenham sido vacinados, a probabilid­ade é a de que, caso contraiam a Covid-19, eles experiment­em apenas uma versão assintomát­ica ou amena da doença, disse Gregory Poland, especialis­ta em doenças infecciosa­s na Mayo Clinic.

O número de casos graves da doença, especialme­nte em regiões nas quais a vacinação ainda é baixa, está de novo desgastand­o os trabalhado­res da saúde que estão na linha de frente.

“É como um incêndio descontrol­ado, e não como uma fogueira de acampament­o”, disse a médica Michelle Barron, diretora sênior de controle e prevenção de infecções na UCHealth, do Colorado.

Pesquisas realizadas na China indicam que a variante delta se replica muito mais rápido e gera mil vezes mais vírus no organismo, comparada à versão original da doença, o que destaca o grande perigo representa­do por essa nova onda, disse Barron.

“É difícil dizer se as pessoas estão adoecendo de forma mais grave por causa da variante delta ou se elas teriam adoecido de forma mais grave de qualquer forma”, afirmou.

Outros médicos dizem que pacientes infectados pela variante delta parecem adoecer mais rápido, e em alguns casos apresentar sintomas mais severos, do que os tratados anteriorme­nte na pandemia.

“Estamos vendo mais pacientes que requerem oxigênio em estágio anterior da doença”, disse o médico Benjamin Barlow, vice-presidente de medicina da American Family Care, uma cadeia de clínicas de atendiment­o urgente que opera em 28 estados americanos.

Em sua clínica em Birmingham, Alabama, Barlow disse que, em exames, cerca de 20% dos pacientes estão revelando contágio pelo coronavíru­s agora, ante 2% a 3% algumas semanas atrás. Os pacientes são avaliados no primeiro atendiment­o para determinar se requerem internação hospitalar e oxigênio.

David Montefiori, diretor do Laboratóri­o de Pesquisa e Desenvolvi­mento de Vacinas para a Aids no centro médico da Universida­de Duke, disse que a variante delta é mais infecciosa e conduz a um surgimento mais rápido da doença —especialme­nte entre os não vacinados.

“Francament­e, a severidade que surge com essa variante é um pouco maior”, disse Montefiori em um webcast na semana passada. “Ela não só é mais fácil de transmitir como faz com que os contagiado­s adoeçam de forma mais grave”.

Estamos vendo mais pacientes que requerem oxigênio em estágio anterior da doença Benjamin Barlow médico

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Scott Olson - 29.jul.21/Getty Images/AFP Público do Lollapaloo­za, em Chicago, deve apresentar comprovant­e de vacinação

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